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A solidão é própria da velhice?

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Várias ideias, expectativas de comportamentos e julgamentos de valores são deslocados para a fase do nosso envelhecimento, como se fossem regras imutáveis e carimbos que atestam que será sempre assim porque você está velha ou velho. É como se fosse o seguinte: a idade define a pessoa, e não, a pessoa é dona de sua vida. Começo assim essa Coluna, para provocar em vocês leitoras e leitores, algumas reflexões sobre alguns preconceitos que a sociedade empurra para a velhice e que necessariamente não correspondem à realidade. Com base na minha experiência profissional diante da presença de muitas pessoas idosas e resultado de estudos diários, percebo que a noção que se tem sobre esse período da nossa vida, muitas das vezes, não é justo e nem é verdadeiro.

Associar a velhice à estação da natureza do outono, quando não muito, ao inverno. Sem frutos e com muito frio, sem vida. Não é essa a imagem quem vem à nossa cabeça? Será que é sempre assim? Quanto de nós, com a idade que temos, não podemos renascer e ressignificar a nossa vida com projetos e sonhos a serem realizados? A TV ainda essa semana mostrou uma senhora que passou no vestibular com mais de 65 anos de idade e realizou seu sonho. A nadadora do Clube Bom Pastor deseja ir mais longe por águas mais profundas e distantes. Ir mais. Sempre em frente. O milagre é esse mesmo – as coisas não param de acontecer em nós. Agora é o tempo de fazer sua vida acontecer com qualquer idade. Além de vincular, na maioria da literatura, a velhice ao outono ou ao inverno; no campo psicológico, o raciocínio social preconceituoso e agressivo também prevalece.

Como o de se definir o estado emocional das pessoas idosas como sendo o campo fértil da solidão humana. Aqui eu penso que ainda é pior. Concordo com muitas pessoas e estudiosos da matéria, que, com o envelhecimento – e eu estou experimentado essa sensação – fora do ambiente cotidiano do trabalho, nossas relações diminuem bem. Se a gente não reagir em criar novas amizades e grupos sociais, viveremos a ausência e o esquecimento que seremos definitivamente, em breve, num tempo em que não sabemos quando será; só sabemos, que um dia, ele vai acontecer. Enquanto isso, precisamos continuar vivendo a vida.

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A solidão é, na expressão do psicanalista mineiro radicado no Rio de Janeiro, João Batista Ferreira, dor e falta. Afirma ele, “estamos numa época de empobrecimento geral. O mundo está sozinho.” Em entrevista concedida ao grande jornalista José Maria Mayrink, autor do interessante livro -SOLIDÃO – que contém uma série de reportagens sobre esse sentimento vivido por diversas pessoas em São Paulo, datado do ano de 1982. Mais atual, impossível! Fica a dica para leitura. Portanto, a solidão não é exclusividade de quem tem muita idade, anos vividos. Ela é própria da liberdade humana. E no caso das pessoas idosas é fundamental fazer a distinção entre escolher a solidão, em determinados momentos do tempo de sua vida, e ser antissocial ou coisa que o valha; ser ranzinza, mal humorado, solitário. São situações emocionais diferentes. Que não devem
ser misturadas. E nem depositadas “na conta” das pessoas que envelhecem.

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Por fim, prezadas leitoras e leitores, precisamos questionar, ter uma visão crítica sobre a socialização ideologicamente construída em torno do nosso envelhecimento. E recriar um outro modo de envelhecer para todos nós.

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