Apresento semanalmente nessa coluna vários assuntos ligados ao nosso envelhecimento. Minha expectativa não é outra senão a de colocar o tema do envelhecimento no nosso cotidiano. E cada vez mais eu estou convencido de que precisamos mesmo falar mais sobre essa fase da nossa vida: a velhice! Desmistificar ideias e eliminar preconceitos. No olhar da sociedade há muitos estigmas e estereótipos negativos e indesejáveis sobre ficar velho ou velha ou ser uma pessoa idosa. Falar de sexo, falar de velhice são pautas que são negligenciadas, que pouco são comentadas e debatidas em nossas instituições educativas.
Velhice e sexualidade são temas ainda carregados socialmente de muitas proibições e negações para quem já passou dos 60+. Como também para o sexo, a despeito de outras áreas da vida, as pessoas idosas (algumas) não contam e passam a ser consideradas assexuadas, sem desejos sexuais. O que não é verdade. A vivência do envelhecimento masculino traz medo e insegurança, principalmente pelo desempenho na competência sexual. Não é à toa que esse filão de mercado cresceu muito, e o percentual de pessoas idosas com aids, também.
Todo mundo quer viver muito, de um modo geral, mas poucas pessoas aceitam envelhecer numa boa. Como se isso fosse possível, viver muito sem envelhecer. Não obstante, é preciso considerar que com o avanço da inteligência artificial, outros modos de conceber a vida estão sendo projetados, inclusive, o de anular a velhice. Será possível?
As relações sexuais presentes nos ambientes machistas em que estamos inseridos, permitidas e estimuladas somente aos mais jovens, estão muito ligadas às margens de desempenhos, aos acúmulos de quantidades, com menos repercussões nas qualidades dos envolvimentos íntimos que elas representam. Mesmo assim, em sinais da modernidade atual, em gerações mais novas, o que se observa, segundo estudiosos, é que essa dimensão do sexo está distante do comportamento dos mais novos.
Outros modos de expressar amor e afeto estão sendo engendrados na dinâmica mundial contemporânea. O que vai e que chega ao mundo da velhice. Predominantemente composto por mulheres que vivem mais do que os homens. É o chamado, é o capítulo nobre da geriatria e da gerontologia. Feminilização da velhice. Como as mulheres estão vivendo a sua sexualidade nessa arena tão masculina em que vivemos? E aí ganha visibilidade, e que bom que seja assim, a diversidade e a pluralidade de identidades sexuais, que não se afinam na heteronormatividade de homens e mulheres que se relacionam afetivamente, sexualmente, caindo sobre esses uma dupla marginalização e uma onda real de risco de vida: por serem velhos e velhas; e por não se enquadrarem no modelo único de se amarem e serem amados e amadas.
Se já temos dificuldades na aceitação de tantas outras formas saudáveis de amar, numa sociedade doente, como a nossa, na velhice, que é muito rejeitada, o quadro fica embaçado. Como se a sexualidade de todos nós que envelhecemos não nos acompanhasse para o resto de nossa vida, inclusive na idade mais avançada. Nosso envelhecimento é construído todos os dias. Não se fica velho de uma hora para a outra. A sexualidade está viva em todos os nossos ciclos de vida, em suas diferentes expressões, possibilidades, ganhos e expectativas. Velhice e sexualidade, de imediato, podem parecer realidades incompatíveis, diante de uma sociedade etarista e de natureza gerontofóbica, mas são duas dimensões complexas, que pertencem ao universo humano, que são gestadas entre relações, desafios, lutas pessoais e escolhas na sequência da construção de nossos dias, semanas, meses e anos para o encontro do nosso envelhecimento. Diverso e plural. Como é a vida.
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