Na nossa cultura, o cuidado dispensado às pessoas idosas fica por conta do círculo familiar. Mas, desejo considerar aqui que nem sempre isso acontece: temos muitos casos que ganham visibilidade midiática em que esse cuidado não está presente no domicílio de muitos idosos. A violência praticada contra eles, na sua grande maioria, conforme os estudos na área demonstram, tem como seus autores pessoas íntimas, próximas, do contato diário deles.
Independente de classe social e condição econômica, a violência contra (algumas) pessoas idosas sempre existiu. No caso brasileiro, no nosso caso, não temos uma educação positiva nem uma cultura favorável ao nosso envelhecimento. Diante de uma das principais transformações por que passa o mundo atual, que é o envelhecimento populacional, não valorizamos nem potencializamos essa realidade de que estamos vivendo mais, de que estamos conquistando longevidade em nossa vida. Esse fato precisa ser comemorado, celebrado e entrar definitivamente nos espaços urbanos de nossas cidades. Em Juiz de Fora mesmo: a cidade precisa acordar para essa nova realidade – temos, extraoficialmente, mais de 100 mil pessoas com a idade de 60 anos e mais. E o que a cidade tem feito para que toda essa gente viva com qualidade de vida todo esse tempo a mais de conquistas?
Quantas pessoas idosas já foram ao Cine-Theatro Central? Ao Museu Mariano Procópio? Ao Complexo Esportivo que integra o Estádio Mário Helênio e o Ginásio Municipal Jornalista Antônio Marcos? Citei eventos culturais e esportivos, mas a cidade oferece muito mais do que esses importantes produtos turísticos. Entre tantos outros, eventos de gastronomia, feiras diversas. A cidade efetivamente tem de ser para todas as pessoas de todas as idades. Estamos a caminho. Em relação ao cuidado dispensado às pessoas idosas, precisamos melhorar muito, porque o etarismo (valemos menos porque temos idade) ainda está muito fortalecido em nossas relações sociais cotidianas. Falta-nos, enquanto sociedade e comunidade, uma educação para o nosso envelhecimento.
Buscando entrar na pergunta dessa coluna de hoje, eu respondo que as pessoas idosas, no seu contexto geral com todas as suas especificidades e naturezas diversas, precisam ter a participação maior de toda a cidade. Parte da população idosa – uma fração – tem um apoio social e de saúde; uma outra parte, principalmente aquela que tem pessoas idosas mais dependentes e sem condições de autonomia, essa sim, precisa o quanto antes de cuidados da cidade. O universo do envelhecimento contém em si vários tipos de velhices. Nós não envelhecemos da mesma forma e horizontalidade. O mundo da velhice é um mundo heterogêneo, e uma política municipal de cuidados, que se faz urgente, deve envolver todas essas velhices em suas distintas versões e realidades.
Só o cuidado nos humaniza. E em todas as fases do nosso desenvolvimento humano precisamos de cuidados. E cuidar.
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