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Frutos do Outubro

coluna pitico face
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Pelas nervosas e primeiras colunas, eu tive a minha apresentação pública, semanal, de todas as sextas-feiras aos leitores da Tribuna. Passados alguns meses, eu posso dizer, que eu tenho leitores. O que me honra profundamente. Nesse tempo de participação por aqui, sinto-me muito bem, quando recebo espontaneamente, manifestações gratuitas, de alguns leitores e leitoras que se posicionam, comentando, gostando da leitura da coluna da semana. Nas ruas, por telefone e na edição digital. Há leitores que se identificam muito com o tema apresentado, naturalmente, ligado ao envelhecimento humano, que é por onde circulo toda semana e é o motivo de existência da Coluna. O Idoso e a Cidade.

Para essa coluna, encerrado o processo de cuidado, há uma pessoa idosa da família, minha sogra, – desejo compartilhar com vocês -, que por um período de mais de dez anos de convivência diária com a Doença de Alzheimer, em casa, de manhã ao anoitecer, em sentido horário ou não, várias lições de vida foram aprendidas. A principal delas é de que a gente morre. Morre mesmo. E que só o amor supera as adversidades, por mais que seja um manjado clichê dizer isso, mas é verdade: só o amor revoluciona o mundo. Eu vivi isso dentro de casa. Aos 82 anos, ela partiu. Estamos no luto. Sem culpa e despidos de qualquer fantasia de que a situação podia ser diferente. Não. Não somos imortais. Ela morreu amparada no amor das filhas e do filho. E dos descendentes desses. Dedico, como forma de homenagem, essas linhas encharcadas de emoção à memória dela. No reconhecimento precioso do seu rico legado fincado na generosidade, na honestidade e no amor à família. Aos filhos, aos netos e à mim. Deixou frutos do outono. Colheu o que plantou. No amor de quem fez o que pode pelos seus.

Como assistente social com especialização em gerontologia e com vasta experiência acumulada na área do envelhecimento, tenho a dizer que essas importantes qualificações profissionais que conquistei não amenizam em nada o meu sofrimento, porque a dor é insubstituível e não encontra outro lugar que não seja no coração e na alma de quem cuida ou participa do cuidado de um familiar idoso. Eu trago aqui para a coluna essa pauta da Doença de Alzheimer, com vivência pessoal, porque percebo que precisamos falar, escrever e debater sobre a essa realidade. Cada vez mais presente entre nós. Quem de nós não tem em casa ou em alguma instituição de longa permanência uma pessoa idosa com esse diagnóstico? Ou mesmo, quem de nós é capaz de afirmar com segurança como será o amanhã? Como será o nosso futuro? Como diria o seu Ataíde, “a gente sabe como começa, mas não sabe como termina”!

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A pauta em questão, a Doença de Alzheimer, é um capítulo importante e nobre da geriatria e da gerontologia, que deve ser apropriado e conhecido do grande público. Das famílias. Dos cuidadores, formais e informais. E dos gestores públicos municipais, estaduais e federais. Eu passei muito aperto para vivenciar esse cuidado dispensado à minha sogra; mesmo não sendo a pessoa central do cuidado, eu acompanhei todo o processo de desenvolvimento da doença. As fases do Alzheimer. A cada fase exige-se um cuidado diferenciado. As respostas mudam de acordo com o progresso dos sintomas. Experimentei muita solidão de apoio social, de inexistência de recursos sociais na cidade para ter conforto emocional e descanso na alma. É muito difícil. Senti também solidão de gente. Falta de pessoas para desabafar. Angústia. Noites mal dormidas e sem intimidades de casal. A dinâmica, a rotina da casa muda completamente. É uma doença da família.

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Com a despedida da minha sogra, fica mais evidente para mim de quanto é necessário a ativação da Associação Brasileira de Alzheimer, com atuação na cidade. Disseminar informações científicas sobre a doença e provocar as autoridades públicas para a criação de serviços sociais e de saúde para as pessoas idosas com Alzheimer e também implantar serviços públicos de apoio aos cuidadores familiares de pessoas idosas nessa condição. Cuidar sozinho é desumano.

Para as próximas eleições municipais que já batem à nossa porta, espero que o/as candidato/as não deixem de colocar, em seus planos de governo, medidas públicas de proteção social destinadas à população idosa, a chamada Terceira Idade, que já ultrapassou a marca de 90 mil pessoas na cidade.

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