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O que é preciso morrer para nascer o novo?

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O convívio com as pessoas idosas há mais de 30 anos na cidade pela PJF, me deu muito além do que régua e compasso para contornar a geometria dos dias, semanas, meses e anos. Entre um ponto e outro – entre um círculo e outro -, tive a oportunidade de viver muitas histórias e experiências de vida de muitas pessoas. Pessoas idosas, que na sua grande maioria, carecem de uma escuta ativa. Carecem de acolhimento, afeto e amor. Carecem de humanidade. O meu envolvimento com elas, foi e é de tal ordem, que me antecipei na vivência da velhice. Com esse contato direto com as pessoas idosas, eu tive também o privilégio de me preparar, desde já, para essa fase da vida. E ela chegou: como eu a desejo vivenciar?

Sob minhas responsabilidades, vou cuidar da saúde física e mental. Buscar uma relação gostosa e prazerosa com amigos e amigas para o compartilhamento diário do conteúdo inscrito no mundo emocional e espiritual. Ter uma convivência saudável com os familiares, distinguindo sempre o que me pertence e o que não está ao meu alcance.

Esse tempo em que me encontro, fora dos controles institucionais, quando se está aposentado, como é o meu caso, e certamente, é o de algumas leitoras e leitores que me honram com o vínculo dessa coluna semanal, percebo que é muito importante e procuro sempre fazer, um exercício de fazer o futuro. Quanto mais eu sigo para a frente pedindo a Deus cada vez mais coragem para não desanimar, mais eu sinto vontade de mergulhar nas águas da memória dos tempos físicos passados, que estão fervilhando de presenças em mim. Por essa estrada de trabalho com as pessoas idosas, aprendi que é preciso morrer em querer controlar tudo na vida para deixar e permitir o novo chegar. Algumas pessoas idosas trazem em si a novidade na alma, com o rosto sulcado pelo tempo. Aprendi também que o que eu sou tem a construção de muitas pessoas, e de tudo aquilo que os meus órgãos dos sentidos puderam perceber. Estar na velhice significa rebuscar e refinar os sentidos na direção do clamor da alma. Há sim, uma outra idade que não aparece nos documentos oficiais. A idade invisível do cotidiano da (minha) mãe que fez os filhos estudarem em escolas públicas e serem alguém na vida. A luta do meu pai, que no silêncio do seu peito, amou os filhos à sua maneira – sempre alegre, firme e decisivo. É preciso morrer todos os dias para o descaso e desinteresse pela vida humana e cuidar da criação de um novo mundo feito por homens e mulheres em comunhão de amor à natureza.

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