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O que eu vou fazer da minha vida, agora?

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A nossa educação formal não nos prepara para a vida. Reforça em nós os valores ou os ditos valores de mercado: o domínio das técnicas para saber fazer e ser o melhor, chegar na frente e passar por cima dos outros. As individualidades dos aprendentes não são colocadas e muito menos, vistas. Ainda somos fracos no manejo de habilidades socioemocionais na relação com as pessoas, em qualquer situação, dentro de casa e/ou no ambiente corporativo.

Estou iniciando essa conversa dessa forma, porque eu desejo refletir com vocês, caros leitores e leitoras, sobre o sentido da vida. Pode parecer mais um clichê, de tanto que isso é falado, mas, percebo que é necessário entrar nesse caminho. Fazer a jornada – a minha, naturalmente – para o autoconhecimento, que com a passagem do tempo vai me colocando de frente à frente com as minhas expectativas e desejo. Reconheço e sinto que é uma viagem muito solitária. A bagagem que recebi de meus pais está comigo na alma, mas, eu cresci, e cresceu em mim o apetite pela vida. O que recebi lá atrás, quando criança, está selado para sempre no cômodo principal da minha casa; agora, eu desejo mais, eu desejo conquistar a mim mesmo: dar o de beber e o de comer às minhas necessidades e às minhas carências. A cumplicidade e a presença de familiares e amigos e amigas é uma dessas grandes necessidades que a vida me dá. Meus pais lutaram muito para me darem o pão. Eles me colocaram de pé. Ser gigante na estatura humana ficou por minha conta. E o que me torna humano? O amor à Deus. A entrega à espiritualidade. A luta por uma sociedade democrática e solidária.

Se o que a vida quer da gente é coragem, como disse o grande escritor de Cordisburgo/MG, Guimarães Rosa; para temperar os dias, a nossa passagem por aqui, não tem como não seguir em frente. E não é nada demais, reconhecer, como eu reconheço, que eu preciso de apoio, de fé e de estímulo para não desanimar. Não encontramos nas narrativas educacionais, palavras estimuladoras na direção do fortalecimento de nossa expressão como pessoa. E é por essa falta e de tantas outras que vem a minha identificação com o que eu vou ser quando crescer. Noto que, às vezes, em se tratando de uma pessoa idosa, dependendo da construção econômica, afetiva, social, espiritual fica difícil sair da cama todos os dias. O abandono de si preenche o quarto. Mas não é impossível: se dar, se permitir receber amor e possibilidades de vida quando se é mais velho ou mais velha. Um novo parto precisa ser feito.

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Um novo nascimento, independente da idade. Sou cúmplice da angústia da minha mãe quando em nossas conversas dominicais, na varanda terapêutica de sua casa, disse assim, na mesa para os presentes: o que eu vou fazer da minha vida, agora? Num pedido de socorro, reconhecendo que tem vida e a deseja mais. A resposta é, a resposta, não; o comentário que eu faço, é que você, mãe, deve continuar vivendo. Ainda dá tempo de fazer as coisas que te agradam. Converse com as pessoas que você considere como sendo suas amigas. Telefone para alguns familiares, coloque a conversa em dia. Não deixe de participar das missas de domingos, às 10h da manhã. Quando desejar, prepare uma carne de porco assada, maravilhosa, que só você sabe dar o tempero gostoso e ficar macia. Fale pra gente de seu sonho – quando menina – de ser professora primária, lá na “Malacaxeta”, quando fazia, a mando do pai, o almoço dos trabalhadores da fazenda do Dr. Miranda.
Talvez tenha a grandeza da vida, mãe, sem saber.

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