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Razões para continuar vivo

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É ter esperança. É ter fé e coragem. Ir em frente. Mesmo reconhecendo que a coisa está feia. O mundo está sem graça. Como na música “onde Deus possa me ouvir”, faço coro ao cantor Vander Lee, que partiu tão cedo: “as pessoas andam tristes, meus amigos são amigos de ninguém”. Precisamos humanizar a vida. As nossas relações sociais. Temos capacidade de reação e estamos reagindo. A solidariedade existe e está sendo praticada. Eu acredito.

Hoje vou muito mais a sepultamentos e velórios do que antes. De amigos ou de familiares. O que me faz enxergar e cada vez mais me aproximar da minha finitude. Definições e planejamentos de como desejo meu sepultamento fazem parte das conversas ao redor da mesa, seja no café da manhã ou no lanche ao cair da tarde. Tenho a iniciativa de organizar toda a papelada pessoal à mostra para meu ente querido: cartão do banco, com conta bancária e respectiva senha; questões como: se serei sepultado tradicionalmente ou se prefiro ser cremado; se vou doar órgãos que estão em mim ou não, são itens que não podem faltar a essa organização no momento do funeral.

Reconheço que o trabalho social cotidianamente realizado com pessoas idosas me encosta bem dessa realidade da vida. Não que a morte recaia somente sobre quem tem mais idade, não é isso. Morrer é da vida. Mas ter a companhia do sofrimento, da doença incurável, da dor que não passa, promove muitas reflexões e pensamentos em nossa caminhada.

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Nesse universo de vivências diárias em que nos sentimos desconectados das pessoas ao nosso redor, com informações de todo o mundo, mas com uma comunicação vazia e inexistente em relação aos outros, dos que estão perto da gente, dos familiares, amigos, vizinhos ou pessoas comuns, nos tornamos um bando de zumbis, perdidos e sem propósito e sentido. Vale trazer as linhas escritas por Noreena Hertz, no seu livro “O século da solidão – Restabelecer conexões em um mundo fragmentado”, quando ela nos adverte que “… a manifestação contemporânea de solidão vai além do anseio por conexão com aqueles que estão fisicamente ao redor, do desejo de amar e de ser amados, e da tristeza que sentimos quando nos consideramos desprovidos de amigos. Ela também incorpora quão desconectados nos sentimos dos políticos e da política, quão desligados nos sentimos do nosso emprego e local de trabalho, quão excluídos muitos de nós se sentem dos ganhos da sociedade e quão impotentes, invisíveis e sem voz tantos de nós acreditamos ser.”

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Precisamos reagir. Precisamos reagir. Por isso, penso eu, nós temos que buscar em nós mesmos razões para continuarmos vivos. Não tenho essa receita. Mas penso que a nossa saída como gênero humano é mesmo a prática do amor e da solidariedade. É o nosso exemplo que está indo todo para o Sul do país. Compaixão!

Para continuar vivo eu preciso participar da vida comunitária e cultural. Fazer política no sentido de continuar a luta de cada vez mais sensibilizar a cidade para as demandas das pessoas idosas. E convido mais gente para entrar nessa missão. Eu preciso guardar e honrar a memória do meu pai e da minha mãe no legado que eles deixaram para mim, de que a vida é bem melhor com a sala da casa cheia de gente querida.

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Que razões eu tenho para continuar vivo? As de viver a vida. Principalmente ter a dimensão da conquista da solidariedade intergeracional para contribuir na transformação dessa cidade num lugar melhor para se viver para todas as idades. Com mais encontros e de mais gentilezas e generosidades entre nós.

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