Finalizado o carnaval, parabéns à Mocidade Alegre do Bairro São Mateus e à escola Partido Alto. As cinzas simbolizam a existência da nossa mortalidade e da nossa fragilidade. É hora da gente cuidar da vida. Até porque há entre nós um ditado ou uma fala corrente de que as coisas no Brasil só começam pra valer depois do carnaval. E que bom que nós podemos começar de novo, fazer outra vez, tentar novamente. Construir a vida. Que me perdoe o Zeca Pagodinho, mas eu penso diferente: esse lance de “deixa a vida me levar” fica bom mesmo na música, na voz e no ritmo desse consagrado cantor. Porque se a gente não pega a vida de frente, a gente se afunda sem perceber. É o que eu pretendo dialogar com vocês nessa coluna de hoje.
As provocações são essas: como nós estamos construindo a nossa vida? E principalmente: como nós estamos planejando o nosso envelhecimento? Essa segunda pergunta constitui matéria-prima para a reflexão sobre esse período da nossa existência. E avançando um pouco mais no compartilhamento com vocês sobre as questões ligadas ao nosso envelhecimento, estudos com evidências científicas comprovadas dão conta de que a longevidade – ou o aumento do nosso tempo de vida, o alongamento da nossa expectativa de vida, um fato que hoje é comum, a visibilidade de pessoas centenárias, além do reconhecimento da herança da genética familiar – tem muito a ver também com a qualidade das relações sociais que conquistamos na vivência de nossos dias.
Ou seja, sem negar a equação genética que recai sobre a longevidade, fatores outros, como as boas amizades, relacionamentos saudáveis com pessoas que a gente ama e que nos fazem bem, impactam positivamente a nossa saúde física, mental e espiritual. E também é muito recorrente na literatura geriátrica e gerontológica que, além da construção de laços afetivos amorosos ao longo da vida, outros hábitos, como a mudança no nosso estilo de vida, além dos já acima citados, uma boa alimentação orientada por nutricionistas, a prática regular de atividades físicas também dirigidas por profissionais especialistas na área, contribuem significativamente para a manutenção da autonomia e independência funcional de todos nós que envelhecemos.
Há muitas ideias e concepções equivocadas sobre essa fase da nossa vida. Esse tema é muito recheado de preconceitos e mitos insustentáveis. Diante do aumento do nosso tempo de vida, precisamos cada vez mais falar sobre essa pauta, como eu repito por aqui, semanalmente, com vocês, caro/as leitor/as. Uma dessas ideias que circulam entre nós é a de que “o corpo envelhece sem a sua permissão, a alma só envelhece se você permitir”. Eu entendo a boa vontade do autor, mas, é uma receita de vida que nega o envelhecimento: separa o corpo da alma. A alma envelhece também, e não há mal nenhum nisso. Eu posso estar no auge da minha potência de vida com mais idade. Exemplos não faltam. O que há de mal é a presença da exclusão social das pessoas idosas. O etarismo.