Eu trabalho na Prefeitura de Juiz de Fora desde o dia 14 de maio de 1986. Ingressei no serviço público através de concurso para a minha categoria profissional: assistente social. Em maio deste ano, completo quase três décadas e meia de investimento nas políticas públicas municipais destinadas às pessoas idosas da cidade, notadamente, as mais pobres e necessitadas de proteção social. Comecei minha carreira na Secretaria de Saúde. Antes de retornar a Juiz de Fora, trabalhei quase dois anos na Prefeitura de Resende (RJ). Meu primeiro emprego. Nos dois primeiros anos, aqui na PJF, tive atuação no posto de saúde do Bairro Esplanada. Na época não se tinha a denominação de Unidade Básica de Saúde (UBS), como hoje são conhecidas as unidades de saúde. Em seguida, ainda no final dos anos 80 do século passado, como assistente social, coordenei o Posto de Saúde do Bairro Jóquei Clube. E nesse período recebi o convite da assistente social Zeneida Theresinha Delgado para fazer a transição do grupo de idosos da Legião Brasileira de Assistência (LBA) – para a criação do Pró-Idoso da Associação Municipal de Apoio Comunitário (Amac). Sob a orientação e definição política do ex-prefeito Tarcísio Delgado, que investiu pesado nas políticas sociais em JF. Um homem para além de seu tempo. Um visionário! Quem não se lembra da comemoração do dia do assistente social e da assistente social, com a celebração de um café da manhã, todos os anos, com todos os trabalhadores e trabalhadoras da assistência social no município? E não tem como deixar passar a atuação vibrante, sensível e competente do Zaguinha, nos programas de melhorias das condições de vida da população da cidade, a parte mais vulnerável. No dia 17 de junho de 1988, o prefeito Tarcísio Delgado, à época, entregou à cidade o Pró-Idoso que iniciou seus trabalhos à Avenida Rio Branco 3.442. Até 2004, eu trabalhei na Amac. De 2005 até os dias atuais, atuo como assistente social no Departamento de Saúde do Idoso da Secretaria de Saúde, Rua Batista de Oliveira 943, Centro. Tempo muito bom de sementes e raízes.
Mais do que a produção de boletins de produção ambulatorial, de mapas, planilhas e relatórios produzi e fui produzido de sentimentos, emoções, perdas e ganhos na vida de muita gente, sobremaneira, na minha . O que me tornou melhor foi a convivência diária nessas mais de 15 mil horas de trabalho na PJF. O que recheou e temperou de sabores e saberes a minha memória, foram as pessoas, foram os colegas, os amigos, as amigas, as chefias que tive ao longo do exercício diário da profissão, o que deu e dá sentido à minha vida. E faço coro à música,”ando devagar porque já tive pressa”. Com os pés na aposentadoria, sigo a marcha, sigo em frente, O tempo sabe passar, eu (ainda) sou criança e aprendo com o tempo a passar. Fui melhor no passado do que agora. O futuro não me alegra, mas não desisto da vida. Resisto!. Tenho para mim o sentido da vida: a família, os amigos, as amigas e o trabalho. Mais velho, como hoje, dou mais importância à minha espiritualidade. A conexão com a natureza e com os deuses do fogo, da água, da terra e do ar. Se o trabalho em mim cumpriu e cumpre a sua função social, isso se deve ao processo relacional entre as pessoas que se comunicam e se fortalecem enquanto sujeitos sociais, na melhor expressão do trabalho social, como algo que dá sentido á vida. Sendo assim, vivendo o luto pela despedida da Margô, servidora da PJF, que estava conosco no Departamento de Saúde do Idoso, há um bom tempo, não posso deixar de, em poucas palavras, homenagear a nossa querida colega e amiga Margarida Fátima Pereira de Carvalho, a Margô, dando a essa coluna o seu nome ou melhor o seu carinhoso apelido. Ela que deu tanto de si para a cidade, para a família e para o seu serviço. Serviu por muito tempo ao antigo Pronto Socorro Municipal, no Morro da Glória. Ficou mais tempo com a gente no departamento. Com o diagnóstico da doença jamais se entregou à depressão ou algo que a colocasse num lugar de vítima ou de coitadinha, jamais! Sempre altiva, corajosa e, acima de tudo, muito bem humorada no cumprimento matinal ao chegar no seu local de trabalho. “Bom dia!” Otimista. Uma mulher de fé, de amor, de luta e de Deus. Altamente carismática. Luminosa. Certamente se encaixa na universal música “Maria, Maria” cantada por Milton Nascimento. Uma serva do Senhor.
A Margarida foi uma referência para todos nós do departamento. Referência de vida, mesmo. Uma grande mãe, amiga e pessoa solidária. Um tipo de pessoa que jamais morrerá em nós. Ao se despedir, às sextas-feiras, era muito comum o seu bordão para mim: “Com moderação no final de semana, quero te ver inteiro na segunda”. E foi exatamente na terça-feira de carnaval, que ela, mesmo com toda moderação, que lhe era peculiar, tirou a fantasia e partiu. Nosso dia de cinzas não foi na quarta-feira. Foi na quinta-feira, quando retornamos ao trabalho no Departamento de Saúde do Idoso. Um dia difícil, arrastado, triste, impregnado de sua energia, com a presença ausente da Margô. Sua fala, seu perfume, seu andar, sua água fervendo no fogão para servir o café. Sua falta, é sim, o que temos.
Com a saída da Margô, colocaremos mais importância no nosso trabalho, porque será em nome dela que nós vamos tocar o barco. Vamos seguir adiante. Vamos nos encontrar com o melhor de nós mesmos, porque ela deu o seu melhor. E vamos continuar lutando por uma comunidade mais justa e solidária com as pessoas idosas. Cada vez mais.
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