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Carta a meu pai!

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Escrevo essa carta, ou melhor, escrevo essa coluna para reconhecer e celebrar o meu pai. Dizer do meu amor a ele, tornando pública essa declaração. José Adalberto da Silva. O Daú. O “Rivelino do Asfalto”. Pai do meu irmão. Jeter Fernando. Meu pai tinha uma canhota poderosa, “patada atômica”, daí a semelhança com o craque da Seleção de 70. Era dono também de uma forte cabeçada e fazia muitos gols dessa forma. Nessa época, eu moleque, jogávamos bola, juntos, sábado à tarde, na rua do Quartel do 10° Batalhão de Infantaria. Na Rua General Gomes Carneiro. Bairro Fábrica.
O título dessa coluna de hoje tem sua motivação, o mesmo nome da carta que o escritor tcheco Franz Kafka, mais falado do que lido, publicou em livro, com um forte teor emocional, direcionada ao seu pai. A minha é bem mais simples e tem o desejo de manifestar toda a minha gratidão e amor à memória do meu pai. Eu acho, eu desconfio que o escritor Kafka escreveu essa carta como forma de perdoar o pai. Portanto, com o objetivo de resgatar seu amor por ele. Embora, segundo alguns biógrafos desse importante nome da literatura mundial, essa carta nunca tenha sido enviada ao remetente. Será?

Para não dar spoiler e para que você, leitor e leitora, que, assim como eu, deseja conhecer um pouco sobre essa relação, leia a carta em livro. A carta tem cem páginas. E foi escrita em novembro de 1919, quando o filho tinha 36 anos de idade. Aproveite e leia outras obras literárias também. Não são tantas assim. “A metamorfose” e “O processo” estão entre os livros mais conhecidos, não sei se são tão lidos assim quanto aparecem no mercado editorial. Suspeito que não.

Sobre o meu pai tenho as seguintes lembranças dele, em mim, entre outras, que certamente, por falta de espaço, vou deixar de fora. Meu pai gostava de garapa. Na cidade aprendi que se fala caldo de cana. De fruta, gostava de laranja, de melancia, de manga, de jaca, então, nossa senhora! Gostava de carne seca e de músculo de boi. Carne moída e bife de fígado. Trazia linguiça da “Barraca” aqui de Tabuleiro/MG. Deliciosa. Artesanal.

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Além de jogar bola, meu pai gostava muito de pescar. E eu ia com ele, em muitas vezes; nós, de casa, não fazíamos um programa de lazer, aos domingos, indo pescar na temida Cachoeira da Fumaça, próxima de São João Nepomuceno? Não sei se ela ainda existe, por conta de tanta deterioração ambiental em que estamos metidos. Dava muito lambari lá, viu? Meu pai era uma pessoa muito alegre, bom de conversa e gostava de música. De um gosto variado, eclético. Por ele, aprendi a gostar de samba, MPB e chorinho.

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Embora de letras limitadas, ele tinha uma cultura ampla da vida e sobre a vida. Uma ampla percepção de justiça social. Crítico contumaz da enorme desigualdade social entre nós. Era vendedor, representante comercial. Conviveu com muita gente diferente. Monopolizava as conversas familiares contando suas piadas. Às vezes, a gente pedia para ele contar aquela que a gente já sabia de cor. Mas para o visitante era novidade, e a gargalhada estava garantida. Pode parecer que a melancolia tomou conta das palavras, mas não é verdade, caro leitor e leitora: meu pai está e continuará presente em mim por toda a minha vida.

Essa Coluna de hoje teve a forte influência literária da obra “Água fresca para as flores”, de autoria de Valérie Perrin, fotógrafa e roteirista. Esse é o seu primeiro livro publicado no Brasil. Você tem que ler, é lindo! E teve também a belíssima contribuição do livro “O sal da vida. O que faz a vida…valer a pena!”, da escritora francesa Françoise Héritier. Numa indicação super bem-vinda do Padre Dalton, numa palestra dele na biblioteca redentorista da Igreja da Glória.

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Aos pais, em toda forma de amar, de todas as maneiras. Feliz domingo!

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