O trabalho social e público que realizo com algumas pessoas idosas da cidade me deu uma excelente oportunidade para conquistar o meu futuro. Não somente pelas diversas aprendizagens e lições que tirei para a minha vida e para o meu próprio envelhecimento. Ao conviver diariamente com o envelhecimento de outras pessoas, eu mesmo pude trazer para o meu, o que considero ser bom e afastar o que não me pertence. Mas não aprendi somente com a velhice dos outros como desejo viver a minha.
Também aprendi que nesse momento de vida, ao contrário do que é considerado pelo senso comum, de que as pessoas idosas não tem perspectivas de vida ou não tem horizonte de futuro porque o tempo de vida delas é muito curto, eu percebi que almejar viver o dia seguinte é a sequência do desejo que está no coração e na alma da gente. O tempo vivido que está em nós não está separado, guardadinho em caixinhas denominadas de passado, presente e futuro. Estão literalmente juntos e misturados, como expressão que está na boca do povo. Somos seres atravessados pelo tempo. E a pessoa quanto mais tempo ela tem de vida, quanto mais idosa, mais tempo construído ela tem em si. Daí a sua importância, a sua riqueza humana. Daí o meu privilégio nesse convívio.
Ter futuro é desejar, mais do que desejar, é fazer. E com a conquista da longevidade, precisamos desejar mais para fazermos mais. O período pandêmico, na minha despretensiosa opinião, facilitou ressignificar e dar o real valor e sentido às coisas, por menores que sejam e às pessoas que temos no dia-a-dia, embora vivenciamos a dor e o luto de pessoas próximas, familiares e amigas, que morreram nessa pandemia mundial. Comprometeu o futuro da humanidade? Pode ser que sim. Ela está dada e é real. Penso que o importante de agora em diante é continuar a marcha. Rechear o nosso futuro nos dias presentes, vividos e desejados, na direção da realização dos nossos sonhos e metas. Sonhos e metas fincados no momento de hoje. O futuro pode ser visto como uma luz no final do túnel, mas a caminhada para o encontro dele já começou há muito tempo. As pessoas idosas não pararam no tempo porque estão velhas. Continuam caminhando. Precisam de apoio, respeito, valorização e reconhecimento social.
As pessoas idosas tem futuro? Claro que tem. Não tem no sentido capitalista e mercantilista em que são (somos) tratadas como mercadorias e não como pessoas humanas. Quantas pessoas idosas, conhecidas, ou não, publicamente, têm feito um novo futuro para a sua vida e para a vida de muitas outras pessoas? Quantos exemplos que nós temos de pessoas já idosas que estão reinventando a sua vida, em menores e pequenas mudanças de paradigmas para sua existência, na busca de sentido e propósito? São os novos idosos. São os novos futuros.
O futuro não está ligado à idade das pessoas. Nem é propriedade de faixas etárias. O futuro está ligado ao modo, ao direcionamento e principalmente às definições e prioridades políticas e públicas de gestão da cidade, do estado e do país. Por isso, a atividade política – que visa o bem da coletividade humana(eu acredito) – é tão importante e fundamental para e na nossa vida. E por isso também que acredito no potencial de transformação da sociedade com a participação de todo mundo. Vamos construir um futuro melhor. Para as crianças, escolas. Para os jovens e adultos, cultura, educação e emprego. Para as pessoas idosas, dignidade e cidadania. Para as famílias, comida na mesa todos os dias.