Que falar de velhice é um assunto indigesto, isso é! Percebo que passados mais de 30 anos de atuação pública com parcela da população idosa, o quanto ainda é difícil conquistar a atenção da cidade para as necessidades das pessoas idosas que vivem e envelhecem em nossa cidade. Isso porque somam-se mais de 110 mil pessoas com 60 anos e mais. O tema do envelhecimento e a questão da velhice passa invisível na sociedade pela indiferença do campo político. Não é de hoje. Essa realidade é antiga e ainda permanece, por mais que o mundo tenha mudado. Ganhamos mais tempo de vida, do ponto de vista público e político, com o aumento da nossa expectativa de vida, mas não há nenhum movimento social no sentido de ter atenção e destinação de políticas públicas para as pessoas idosas. Quem dos nossos representantes políticos tem, efetivamente, compromissos com os interesses das pessoas que envelhecem em nossa cidade ou que já estejam idosas?
Vocês, prezadas leitoras e leitores, merecem um prêmio especial pela fidelidade à leitura dominical dessa coluna, além do necessário estímulo que me oferecem em comentários presenciais e/ou virtuais no enfrentamento desse grande desafio que é, através dessas linhas, junto com vocês, sensibilizar a cidade para a existência das pessoas idosas, apresentando as suas particularidades e especificidades enquanto cidadãs e cidadãos.
Historicamente, desde que o mundo é mundo, pelas leituras e estudos que realizo, chego a uma conclusão de que o envelhecimento nunca foi uma pauta tranquila, consensual nas organizações socais humanas. Pelo contrário, é um ponto contraditório, polêmico, de causar resistência e repulsa em algumas culturas. No nosso caso mesmo, na sociedade brasileira, o etarismo é muito forte e está presente em nossas relações sociais.
Somos deixados para trás pela quantidade de anos que temos. Ao invés de sermos respeitados pela vivência da aprendizagem que adquirimos pela vida afora, somos deixados para lá, encostados, aposentados e abandonados em plena companhia dos outros e até mesmo dos nossos familiares. Solidão acompanhada. Talvez seja para sair desse lugar, desse destino do isolamento em que algumas pessoas idosas são colocadas, que algumas outras pessoas, como o milionário empresário americano Bryan Johnson, diz ter diminuído seu ritmo de envelhecimento em 28% com o projeto criado por ele para tratar sua depressão. Essa matéria está na edição do jornal Folha de São Paulo do dia 26 de fevereiro de 2023. Me chamou a atenção e li com interesse. E me coloquei a pensar: será que é mesmo possível algum dia a gente ter uma pílula do rejuvenescimento? Ou esse desejo existirá somente em peças de ficção, na literatura e no cinema? Não sei.
O avanço da inteligência artificial, querendo ou não, é uma realidade. Careço de maiores informações e conhecimentos para aprofundar nessa matéria. Entendo que se faz necessário perante essas novidades tecnológicas e a realidade do mundo digital incluir no debate como ficará o nosso envelhecimento. Qual será a importância e o valor das pessoas idosas, de todos nós que envelhecemos? Qual será o futuro da velhice? Algumas barreiras precisam ser desconstruídas para a inclusão digital de alguns idosos, como: medo e resistência em relação ao novo; vergonha de errar e parecer ultrapassado; pavor de cair em golpes da internet por desconhecer a ferramenta e receio do preconceito por parte de amigos e parentes. Só sei que precisamos falar cada vez mais da velhice, enquanto tivermos tempo.