Algumas pesquisas científicas realizadas na área da geriatria e da gerontologia, que buscam conhecer das pessoas mais jovens e adultas o que elas mais temem ao envelhecer, apontam que se trata de ficarem velhos/as sem autonomia e independência para tocar suas vidas; ou seja, trocando em miúdos, a maioria afirma que o maior medo delas é o de “dar trabalho aos outros”.
Incomodar os familiares ou precisar da ajuda de cuidadores. O que destaco nesse raciocínio é o seguinte: o medo não é tanto de ficar velho ou velha, mas, sim, de depender dos outros para seguir com a vida. Esse medo está muito presente nas nossas relações sociais, e na nossa cabeça, fazendo desse momento de vida, que é a velhice, um período a ser negado e desprovido de muitas possibilidades e potências de realizações e satisfações pessoais. Há muita vida na velhice! Ao escrever isso, não estou dizendo que envelhecer, necessariamente, é um mar de rosas. Não. Mas acredito que essa fase da vida pode vir acompanhada de realizações de sonhos e de propósitos que dão sentido à nossa vida. Estamos cheios de exemplos.
Das muitas aprendizagens que obtive ao longo da minha carreira profissional com algumas pessoas idosas da cidade, e entre tantas lições assimiladas nesse rico e irrequieto convívio diário de mais três décadas, o que desejo destacar nesse momento é que precisamos colocar em nós, tanto no campo pessoal como no plano da sociedade, a realidade do envelhecimento. Eu envelheço na cidade. Todo mundo. A velhice faz parte do nosso desenvolvimento humano.
Onde eu quero chegar? Essa pode ser a pergunta que se passa na sua cabeça agora, caro leitor e leitora! Eu quero chegar ao ponto com vocês, de que nós precisamos também, desde já, promover o planejamento da passagem do tempo em nós. Aqui um parênteses. Quando fazia especialização em gerontologia em Belo Horizonte, pós-graduação, não me esqueço disso, a professora de uma determinada disciplina fez a seguinte pergunta à turma: como vocês desejam envelhecer? Que tipo de velhice vocês estão construindo?
Essas perguntas não me saem da mente. E eu as apresento para vocês. E acrescento, tentando responder à pergunta que dá título a essa coluna, o que precisamos fazer desde agora; costurar uma rede de relacionamentos sociais, um mapa mínimo, o que for possível, para nossa proteção e apoio social na velhice.
Aceito perfeitamente a ideia de que é fundamental, desde cedo, elencar e marcar as pessoas (algumas) com quem eu posso contar mais à frente, quando, se for o caso e acontecer, aumentar minha dependência e diminuir minha autonomia. Pessoas da família. Amigas e amigos. Como é importante cultivar os amigos de ontem e fazer outros. Contar com a vizinhança. Ser-ter-fazer bons vizinhos é fundamental nessa estação da vida.
Essa rede de apoio social precisa ser criada o quanto antes. Porque com o nosso envelhecimento não é somente os músculos que encurtam; se a gente não reagir, com esforço e dedicação, a nossa constituição social fica menor. A sociedade nos coloca para escanteio e somos expulsos do jogo da vida. O time de quem jogará a nosso favor precisa ser escalado a cada dia, porque o tempo passa muito depressa e, quando se vê, já é noite. E na velhice, eu acredito, é tempo de colheita, que se inicia lá atrás. Com que familiares, amigas e amigos, vizinhos e vizinhas, você pode contar na sua velhice?