O título do filme dirigido por Marília Rocha, de 2016, que tem o mesmo nome dessa crônica de hoje, com a brilhante atuação das atrizes Francisca Manuel e Elizabete Francisca Santos é muito interessante. Não só o título. De cara, já entrego a dica. Não deixe de assisti-lo, está disponível na Netflix. Pelo título, eu tive a vontade de conhecê-lo. Foi o que aconteceu. Me senti convidado a entrar. Daí que me veio à mente, a partir dessa motivação, compartilhar com vocês, caros leitores e leitoras, algumas reflexões e questões que o filme sugere. A cidade onde envelheço. Penso que o filme tem tudo a ver com essa coluna “O idoso e a cidade.” Que deseja escrever para a cidade em letras luminosas que as pessoas idosas existem. E também contribuir para que as pessoas idosas enxerguem a cidade, a tenham como um lugar delas. Que as pessoas idosas, ou parte delas, a grande maioria, saia dessa realidade em que foram e se deixaram ser colocadas: a de que, por serem invisibilizadas, desistam de acenar com vida para a cidade.
Se a cidade deve ser o lugar desejável para o encontro das pessoas, onde as pessoas idosas e a cidade se encontram? Existe mesmo esse encontro? O que precisamos fazer para construir essa possibilidade desse encontro? Pode parecer paradoxal, porque não afirmar, um absurdo, eu penso que se trata de uma imensa dívida social e política: uma cidade ter mais de 100 mil pessoas idosas, não oferecer espaços e lugares para os idosos. Com praças e lugares públicos mortos para a convivência social e comunitária. Exceção para esse período de isolamento social, que é necessário.
Nós não podemos e nem devemos dar as costas para a nossa cidade, para o nosso lugar no mundo. Se as pessoas idosas não são convidadas a participarem da cidade, elas devem se apresentar a ela. Dizer assim: “- Olha, eu estou aqui! – Eu desejo participar. Eu amo a minha cidade!” O que vai mudar o cenário dela, a nossa qualidade de vida, é a participação de todo mundo. Se desejamos uma cidade para todas as idades, todos devem participar. Por isso, que volta e meia, eu escrevo por aqui sobre a importância da participação política das pessoas idosas no processo eleitoral das eleições municipais. Já está em curso. As cartas estão na mesa.
Você que é uma pessoa idosa, que me honra com a sua leitura, comece a conversar sobre política na sua casa. Só um parêntesis. Acho um grande equívoco essa ideia plantada entre nós de que política, futebol e religião não se discute. Discute-se, sim. São campos fundamentais da nossa vida. O que seria de nós sem essas subjetividades? O que nós precisamos aprender, e só aprendemos fazendo, é respeitar pra valer as pessoas, que, como todo mundo, tem uma religião diferente da minha, torcem por um time que não é o meu ou votam em um outro candidato ou candidata que não tenho simpatia ou não me alinho a ele ou a ela. Precisamos inaugurar um novo ciclo civilizatório, que definitivamente acabe com a intolerância. Com o ódio. Com a perversidade. Infelizmente, elementos revigorados nos tempos atuais. Precisamos reagir e resistir. Por isso que eu penso e acredito no papel político muito importante a ser desempenhado pelas pessoas idosas na contemporaneidade. A entrada na cena pública de um novo ator político. O poder dos cabelos grisalhos.
Por isso, caro leitor e leitora da Terceira Idade, eu te digo, defenda as suas ideias com serenidade. Escolha um candidato ou uma candidata que te represente. Não fique de fora, mais uma vez, e não dê a sua vez para outra pessoa. Seu voto faz diferença. Participe. Você pode e deve fazer valer com a sua participação que Juiz de Fora seja uma cidade muito boa para se envelhecer. A cidade onde envelheço pode ser um lugar maravilhoso para se viver. É o que todos nós desejamos, porque amamos muito a nossa cidade. Você que tem mais de 70 anos, e a legislação te oferece a possibilidade de votar ou não. Desobedeça, no bom sentido, e vote. A cidade é sua também. E você pode fazer dela a melhor cidade do mundo. Comece pelo voto.