Eu sempre gostei e gosto de conversar com as pessoas. De cumprimentá-las. Gosto de ouvir suas histórias de vida, seus caminhos percorridos, frustrações, sucessos, conquistas e possibilidades. O trabalho social com parte da população idosa da cidade potencializa esse desejo.
Com algumas delas, não, com todas, eu aprendo e aprendi muito a viver. E passam a ser referência para a minha vida e comportamento. São poucas as professoras e professores que me ensinaram para além da sala de aula. Às vezes me vem à cabeça e ao coração: poucas escolas nos ensinam a viver. O que você vai ser quando crescer? A pergunta que remete ao futuro da menina e do menino traz em si uma expectativa de que ele e ela tenham uma profissão que dê dinheiro. Eu sofri em casa e em mim, principalmente, para responder a essa questão, na época de definir minha escolha profissional.
Quando que alguém, com pouca idade, tem condições de definir – para sempre – sua profissão, ao lado de tantos nascimentos e de possibilidades de vida, num corpo e mente em formação? Ter desde cedo, o quanto antes, uma ocupação que deveria me acompanhar para o resto da minha vida é uma violência. E consentida e aprovada socialmente. Eu disse não. Apoiado, na época, em teste vocacional e nas palavras revolucionárias das tardes de sábado em grupo de jovens da Igreja Católica. Eu mergulhei no mundo interior. Escolhi a profissão que falasse à minha alma. E banquei esse desejo. Ele está presente e continua muito vivo em mim. Atuar como assistente social no campo do envelhecimento humano me faz ir para a frente, em busca, cada vez mais, da minha luz; do ser humano que está em mim, que é temperado através do contato com as pessoas. E as pessoas idosas me dão o sal e o fermento para o meu crescimento pessoal de vida e de trabalho.
Sem saber previamente, percebo-me como sendo ou indo na direção de me considerar um ativista da longevidade. Vi essa expressão em alguma leitura que faço diariamente e a achei muito interessante. E a compartilho com vocês nessa coluna de hoje. Penso que é muito importante e fundamental para dar sentido à vida a gente ter uma bandeira. Defender uma causa. Lutar por ela. Ainda mais no mundo de hoje, em que estamos nos comportando como zumbis humanos, sem expressão alguma, sem indignação e reação à morte da vida.
Quando eu era mais novo, mais jovem, tinha dificuldade em pertencer a determinados grupos (poucos) porque não queria ser visto e controlado por algumas pessoas como sendo alguém que não podia expandir seu potencial de interesses e possibilidades com outras pessoas, com outros grupos. Na verdade, o que se manifestava em mim, e hoje, com a passagem do tempo, é que o que eu mais desejo é respeitar e ser respeitado pelas pessoas que fazem parte das minhas relações de convivência. E o exercício profissional cotidiano com uma fração da população idosa da cidade me ajudou a constatar e crer que, independentemente da idade das pessoas, o que vale mesmo é a existência e o tratamento de atenção entre elas. Entre nós.
Viver mais é uma grande conquista da humanidade. Mais do que viver mais em anos físicos, precisamos viver mais e melhor com qualidade de nossa vida, tolerância, civilidade e sonhos. Gestação de futuros.