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Hoje não é um dia qualquer!

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Mesmo nesse tempo de pandemia em que o mundo parou, os dias podem ser diferentes, é só ter a coragem de olhar para dentro: os sentimentos não estão mortos. O sol não deixa de existir. A vida é a única certeza de que o horizonte não tem fim. E é pelo afeto, pela amizade e, principalmente, pelo amor que o tempo circula em nós e se aprofunda. O mergulho na alma é atemporal. Transcende qualquer acidente de percurso, como o que estamos passando nesse momento. Percebo e concordo que, objetivamente, do lado de fora da gente tudo parece estar nublado, sujeito a chuvas e trovoadas. Há mesmo, há sim, um grande cenário de incertezas diante de nossos olhos. Vejo futuros embaçados pela frente. Perspectivas de que nossas mãos não vão se encontrar novamente. Existe medo. Sinto medo, não tem como negar. Essa mistura vem à minha cabeça. Por outro lado, sinto também que o mais importante é que o tempero da vida está em fazer as mesmas coisas, ou fazer e experimentar coisas diferentes, de modo que elas se transformem em extensão da nossa alma.

Você deseja saber, caro leitor e leitora, como vivo meus dias nessa pandemia? Nada demais. Nada de fora do comum. Busco, diariamente, novidades nas minhas mesmices. Até porque sou de poucas mudanças no contorno da minha arquitetura de dentro. O que já está introjetado, desejo, isso sim, aprofundar. Não quero extensão, comprimento; desejo profundidade, ir mais, ou melhor, ser mais, na direção da minha luz. Da luz que todo mundo tem. Minha rotina de vida é muito comum, muito simples. Levanto cedo. Vou para a cozinha. Preparo o café. Há dias em que recebo elogios em casa, por ele estar na medida; outros dias; nem tanto. O fato de fazer o café me dá uma grandeza de outro mundo, de um mundo que é só meu, não no sentido egoísta ou de exclusividade, mas, na certeza, de que faz parte da minha moradia emocional. Assim fica claro para mim, que fazer o café todos os dias e por à mesa, não é um ato banal, sem importância. Pelo contrário. Dá sentido a minha vida. É sim, um ato de amor. Para o restante das horas do dia, eu fico em contato com o que acontece por dentro, o que vai nos pensamentos, nas sensações e na emoção. Tudo serve de parâmetro para prestar atenção aos sinais internos que a alma responde. Preciso reconhecer que os dias estão sem graça. Daí ser necessário reagirmos. E penso que a saída é o autoconhecimento. Sem nenhum tom pejorativo de fala de autoajuda: é preciso se conhecer. Como na música do Rei Roberto Carlos, revisitada pelos Titãs, “é preciso saber viver!”. Esse período por qual estamos passando, favorece essa busca pessoal, do nosso “eu sagrado”. Saber usar o tempo a nosso favor é fundamental para a largueza do nosso interior, que, para mim, é o que importa. Nesse lugar fixamos residência. É o nosso lugar no mundo. Temos chances e mais chances de começar de novo. Por mais que os dias estejam sem graça, nós podemos fazer diferente. É só respirar. E ficar atento à mensagem que o Padre Leles, me passou dias atrás, “corcovado – cor quo vadis – coração para onde vais”.

A vida não cabe numa receita de bolo. É muito maior. Mas ela pode ser tão boa quanto um bolo de cenoura com cobertura de chocolate. Desde que feito com afeto e com amor. Esses são ingredientes fundamentais para a alimentação da nossa alma. Constituem o nosso café, almoço e janta. Se a gente coloca afeto, carinho e amor nas mesmas coisas que fazemos todos os dias, elas, com certeza, tornam-se extraordinárias. Como é extraordinário vacinar contra a Covid, diante dessa realidade de desvalorização da vida humana, ainda mais, infelizmente, daqueles que tem mais idade. Vivemos numa sociedade e num país que, quanto mais a gente vive, quanto mais a gente adquire idade, menos a gente vale. É um absurdo! Por isso é preciso encontrar refúgios e saídas dentro da gente. Para aguentar o tranco, mudemos o nosso olhar. Mudemos a maneira de enxergarmos a nós mesmos. Somos melhores do que imaginamos. A pandemia pode potencializar a nossa capacidade de reação. Na direção de novas descobertas, possibilidades e conquistas. Para quem desejar. E fazer por onde.

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