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É o amor!

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Eu percebo a vida e olho para ela como sendo um presente, um dom de Deus. Uma oferta. Uma entrega. Essa é a minha profissão de fé. E rendo graças à Ele, diariamente. O milagre existe. Está presente em mim um sentimento macio e quente, um desejo eternamente infantil que me faz correr para o colo de Deus. Eu preciso muito de ter proteção e de ser protegido. Preciso cada vez mais do meu pai. Sua ausência me deixa com um buraco na alma. Preciso do seu olhar sobre mim. De sua benção. Não somente no sentido de me livrar do mal e das pessoas que me querem mal, mas também de sentir que estou sendo olhado e visto por alguém.

Trago na memória a sensação gostosa que tive quando meu pai me ensinou a andar de bicicleta. Eu, com medo, tentando me equilibrar. Meu pai segurava na garupa da bicicleta e eu, com mais medo ainda, à medida em que mais eu pedalava, avançava no equilíbrio. Pronto. Descobri o mundo. Lá fui eu para a vida. Como na bicicleta, sempre tentando me equilibrar.

Na caminhada pela vida, eu fui aprendendo a viver. E a perceber suas nuances, caminhos e atalhos. Cresci. Hoje, envelheço buscando cada vez mais ter um propósito de vida. Enxergar o extraordinário nas miudezas do cotidiano, ainda mais nesse tempo de isolamento social, de quarentena: até lavar louças do café da manhã, do almoço e do lanche da tarde faz sentido, e encontro poesia nessas ações, aparentemente desprezíveis. Como valorizo e gosto de um pano de prato na cozinha!

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Perguntada pelo repórter sobre o que achava da vida, a escritora Clarice Lispector, moradora do Leme, no Rio de Janeiro, respondeu a ele: a vida é boa, viver é difícil. Verdade, Clarice. Viver não cabe receitas. Cabe entrega ao que se gosta de fazer. Ao que se ama e que te faz muito bem. Que te deixa extasiado, feliz da vida.

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Nessa direção, desejo compartilhar com vocês, leitores e leitoras, sobre um compromisso familiar que participei há duas semanas passadas. “Chá-revelação”! Revelação de que? Do sexo do bebê. E foi tão interessante que teve até apostas em dinheiro, de quem cravava ser um menino ou uma menina. Tudo isso aconteceu num ambiente harmonioso e rodeado de muita curiosidade e perplexidade. Afinal de contas, estávamos diante do mistério. Não só para os pais, de primeira viagem – Paola e Santiago -, mas também para todos os participantes. Poucos. Até por conta de evitar aglomeração humana. E sendo assim, o evento ganhou as redes sociais. On-line e em tempo real. Com imagens, fotos e depoimentos dos convidados (as). Do círculo de amizade e da família.

Fora o acontecimento em si, que, para mim, foi uma novidade e um arranjo da modernidade, a reunião me proporcionou algumas reflexões. A principal delas é a de que a vida requer entrega afetiva e amor. Cuidado de uma pessoa para outra pessoa. No silêncio da minha alma, fiquei pensando na gravidez da Paola. Que ato extraordinário. Gerar a vida de uma outra pessoa, e, para mim, não há dúvida: Deus está aí! E está em nós. Essa gratuidade da vida me enche o coração e me faz ir para além de mim. Se, com o nascimento de uma criança chega a esperança de novos passos, por que na morte não podemos dizer que a vida valeu a pena? Nascer-morrer é o motor da vida.

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Em todos os minutos, e em todo tempo, há alguém ou alguma coisa que nasce, e há também, de igual modo, alguém ou alguma coisa que morre. Na minha busca por direção na vida, para socorro à minha aflição existencial, recorro aos livros, à literatura, para não morrer de sede e nem de fome. Alguns escritores, como uma já citada acima no texto, falam à minha alma e me oferecem o que de comer. Palavra é alimento. Palavras, assim como as mulheres grávidas, assim como a Paola, dão luzes às nossas vidas. Escrever é parir. A vida atual carece de rituais de passagens. Cada conquista tem que ser celebrada. Desde o nosso nascimento até a nossa despedida.

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