Toda casa deveria ser (nem sempre é) um lugar privilegiado para o encontro de pessoas para a vivência do amor. É em casa que nossas relações humanas são construídas e levadas ao nosso íntimo, ao nosso trabalho profissional, ao nosso universo de vida. Desde cedo somos criados uns com os outros para a descoberta do mundo.Toda casa, portanto, para mim, é um templo. Um espaço sagrado. É interessante notar que, na nossa casa, tem sempre um lugar, um pedaço, que a gente gosta mais de ficar. Eu gosto muito de conversar na cozinha. De preferência, bebendo ou comendo alguma coisa. Molhando a palavra e jogando conversa fora. Isso são licenças poéticas. Essas conversas familiares nunca são de se jogar fora. Pelo contrário, elas são reveladoras de nós mesmos. Agora, que eu adoro jogar conversa fora, isso eu adoro, no sentido de poder falar, o que vem à cabeça, sem amarras e sem restrições. Poder falar em casa, fora da pressão do cotidiano do ambiente social de trabalho, por exemplo, é muito bom. É o lugar certo para a expressão de nossa intimidade e de nossos fantasmas que encobrem a nossa luz.
De toda a minha vida até aqui, já passei e morei em algumas casas. Quando criança, em Porciúncula, foi na casa construída pelo meu pai. Teve a da Rua General Gomes Carneiro, 39/101, no Bairro Fábrica, quando chegamos em Juiz de Fora, no ano de 1968. Moramos também, em pouquíssimo tempo, numa casa bonita, no Bairro Monte Castelo. Mas ficamos muito pouco tempo lá. Retornamos para a casa do Bairro Fábrica. Na Rua Bernardo Mascarenhas, moramos no número 496. Daí em diante, eu fui morar em outra cidade, em outras casas. Passado um bom tempo, moro hoje no Bairro Santa Catarina. Minha mãe e meu irmão moram no Bairro Democrata, numa casa construída com a participação muito grande do meu pai, num terreno comprado por ele para esse fim. Meu pai falecido há cinco anos, fez muito pela e na casa. Uma casa simples, mas sempre aberta aos familiares e amigos. Se tem uma característica bem típica dos moradores de nossa casa é receber bem as pessoas. Fazer com que elas sintam-se à vontade. Uma marca histórica dessa presença coletiva em nossa casa está no futebol. Os jogos do Flamengo, nos anos 80, do século passado, eram vistos por muita gente, pela vizinhança e pelos colegas peladeiros de todos os sábados na Rua do Quartel do 10º Batalhão de Infantaria.
Escrevo essas linhas para compartilhar com você, caro leitor, prezada leitora sobre a delícia de se ter um canto mágico da casa da minha mãe, que é uma varanda que beija o quintal constituído por diversas árvores frutíferas de mangas, pitangas e ameixas. E mais algumas plantas comuns. E no projeto do meu irmão, está o preparo de um espaço reservado para o cultivo de ervas aromáticas, tendo em vista que na condição de gastrônomo, ele já pensa em cardápios especializados. Além de todo esse cenário natural embelezado por Deus, é nessa varanda, que as nossas conversas familiares acontecem. Rituais familiares guardamos aos montes. Um deles, é que religiosamente, todos os domingos, nos encontramos na casa da mãe para as sessões semanais na “varanda terapêutica” do Bairro Democrata. Em se tratando de terapia, o papo é livre. Fica eu, meu irmão, meu filho e mãe conversando sobre a vida, sobre a nossa vida, a vida de cada um de nós. Nossos projetos pessoais e profissionais, nosso passado, nosso futuro, nossos medos, nossas possibilidades, nossos começos, nossos fins. Como é bom!. É um exercício de avaliar, levemente, a semana que termina e projetar a próxima que começa. Na presença das pessoas que amamos o mundo fica colorido e o nosso fardo fica menor e mais fácil de suportar.