Ícone do site Tribuna de Minas

O envelhecimento como uma questão política

Pitico Fernando Priamo
PUBLICIDADE

Por que alguns políticos no exercício do mandato tendo já uma idade longa, não se reconhecem como sendo pessoas idosas? Por que não se veem como idosos? Perdem a oportunidade de inaugurar uma nova cultura pública para a valorização dessa fase da nossa vida. Ao invés de assumirem essa importante condição da vida e contribuírem para a promoção de uma nova educação anti-idadista, ainda conservam a marca do preconceito não reconhecendo o valor e o respeito que a idade impõe.

Faço aqui uma ressalva. Idade e bom caráter não são sinônimos. O fato de uma pessoa ter uma idade extensa não confere a ela automaticamente um atestado de ser uma pessoa do bem. Como diria o senso comum, os canalhas também envelhecem. É preciso questionar essa visão que, de um modo geral, trazemos sobre o envelhecimento, como fosse uma fase da vida onde tudo é sempre azul e apagada de paradoxos e contradições comportamentais e de personalidade. Quem faz o nosso envelhecimento somos nós mesmos. Nos silêncios e anonimatos de nossa construção de todo santo dia.

Penso que devemos tratar esse período como uma questão política. Porque ele acontece por causa de nossas ações e escolhas. Isso no plano subjetivo, no âmbito da nossa longitude doméstica. Agora, o que é preciso acontecer é essa estação de vida entrar com força na cena urbana de nossas cidades. Fazer parte das plataformas políticas do nosso processo eleitoral. É provocar uma mudança de mentalidade na cabeça de quem governa o município e o nosso país. De que adianta, como país, sermos empurrados para frente na conquista da longevidade, se fica cada vez mais distante, burocratizada, a garantia dos mínimos sociais para a melhoria das condições de vida da maioria da população idosa brasileira? A proteção social afasta de nós a possibilidade de um envelhecimento com direitos assegurados: quanto mais a gente envelhece, mais pobre a gente fica. Se a pauta do envelhecimento não entrar para valer na política da cidade, nosso futuro, sem dúvida, estará comprometido para pior. Sem memória não há futuro.

PUBLICIDADE

Se o envelhecimento deve ser visto como uma questão política, significa que esse processo de vida diz respeito a todas as idades e a todos nós. É imprescindível que haja o quanto antes uma mobilização nacional, um mutirão intergeracional que possa despertar a atenção do país e da cidade na construção urgente de uma educação social para a realidade do nosso envelhecimento populacional. Se desejamos construir um país justo e uma cidade civilizada devemos melhorar o tratamento público e político dispensado às pessoas idosas, começando na intimidade da nossa casa.

PUBLICIDADE

Como o envelhecimento é uma questão política, entendo que as pessoas idosas também devem fazer a sua parte. Qual? Participar do processo eleitoral que se avizinha daqui a seis meses. Eleições municipais para prefeito(a) e vereador(a). Fique de olho. Será que vão acolher a pauta do envelhecimento em sua plataforma política? Ou teremos a repetição da mesmice (da ausência) em relação ao compromisso com as pessoas idosas? Será que os(as) candidatos(as) não vão envelhecer?. Certamente que alguns já estão idoso(as). Se a conquista da longevidade, que é uma realidade, não estimular a criação de novos hábitos e a ocupação de espaços sociais pelas pessoas idosas, corremos o risco de um retrocesso sem tamanho na nossa condição humana de produção da nossa história.

Afinal de contas, Gonzaguinha já sentenciava, na canção O que é o que é? (1982): “somos nós que fazemos a vida; como der, ou puder, ou quiser.”

PUBLICIDADE
Sair da versão mobile