Por que alguns políticos no exercício do mandato tendo já uma idade longa, não se reconhecem como sendo pessoas idosas? Por que não se veem como idosos? Perdem a oportunidade de inaugurar uma nova cultura pública para a valorização dessa fase da nossa vida. Ao invés de assumirem essa importante condição da vida e contribuírem para a promoção de uma nova educação anti-idadista, ainda conservam a marca do preconceito não reconhecendo o valor e o respeito que a idade impõe.
Faço aqui uma ressalva. Idade e bom caráter não são sinônimos. O fato de uma pessoa ter uma idade extensa não confere a ela automaticamente um atestado de ser uma pessoa do bem. Como diria o senso comum, os canalhas também envelhecem. É preciso questionar essa visão que, de um modo geral, trazemos sobre o envelhecimento, como fosse uma fase da vida onde tudo é sempre azul e apagada de paradoxos e contradições comportamentais e de personalidade. Quem faz o nosso envelhecimento somos nós mesmos. Nos silêncios e anonimatos de nossa construção de todo santo dia.
Penso que devemos tratar esse período como uma questão política. Porque ele acontece por causa de nossas ações e escolhas. Isso no plano subjetivo, no âmbito da nossa longitude doméstica. Agora, o que é preciso acontecer é essa estação de vida entrar com força na cena urbana de nossas cidades. Fazer parte das plataformas políticas do nosso processo eleitoral. É provocar uma mudança de mentalidade na cabeça de quem governa o município e o nosso país. De que adianta, como país, sermos empurrados para frente na conquista da longevidade, se fica cada vez mais distante, burocratizada, a garantia dos mínimos sociais para a melhoria das condições de vida da maioria da população idosa brasileira? A proteção social afasta de nós a possibilidade de um envelhecimento com direitos assegurados: quanto mais a gente envelhece, mais pobre a gente fica. Se a pauta do envelhecimento não entrar para valer na política da cidade, nosso futuro, sem dúvida, estará comprometido para pior. Sem memória não há futuro.
Se o envelhecimento deve ser visto como uma questão política, significa que esse processo de vida diz respeito a todas as idades e a todos nós. É imprescindível que haja o quanto antes uma mobilização nacional, um mutirão intergeracional que possa despertar a atenção do país e da cidade na construção urgente de uma educação social para a realidade do nosso envelhecimento populacional. Se desejamos construir um país justo e uma cidade civilizada devemos melhorar o tratamento público e político dispensado às pessoas idosas, começando na intimidade da nossa casa.
Como o envelhecimento é uma questão política, entendo que as pessoas idosas também devem fazer a sua parte. Qual? Participar do processo eleitoral que se avizinha daqui a seis meses. Eleições municipais para prefeito(a) e vereador(a). Fique de olho. Será que vão acolher a pauta do envelhecimento em sua plataforma política? Ou teremos a repetição da mesmice (da ausência) em relação ao compromisso com as pessoas idosas? Será que os(as) candidatos(as) não vão envelhecer?. Certamente que alguns já estão idoso(as). Se a conquista da longevidade, que é uma realidade, não estimular a criação de novos hábitos e a ocupação de espaços sociais pelas pessoas idosas, corremos o risco de um retrocesso sem tamanho na nossa condição humana de produção da nossa história.
Afinal de contas, Gonzaguinha já sentenciava, na canção O que é o que é? (1982): “somos nós que fazemos a vida; como der, ou puder, ou quiser.”