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Somos os novos velhos

Pitico Fernando Priamo
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Por muito tempo ficar velho significava o fim de tudo. Embora, eu penso e acredito que essa “consciência” está muito presente em muitas pessoas: a de ficar velho é o mesmo que decretar para si e para os outros o fim da vida. Fim da produtividade. Fim de linha. Fim do sexo. Da liberdade. Da utilidade social. Fim de desejar.

Nessa concepção antiga, mas que ainda vive em nós, a velhice é vista como um tempo próprio para esperar a morte chegar e não um período fértil para a gente viver. Continuar vivendo (que os nossos ídolos da MPB, nossos astros e divas, não escutem essa música!). Hoje ao olharmos para a denominada “terceira idade”, vemos muito mais do que passos lentos e cabelos rasos. Vemos pessoas que recomeçam suas vidas. Pessoas que retomam seus projetos engavetados há muito tempo. Pessoas que aprendem algo novo. Pessoas que namoram. Pessoas que fazem planos para os seus dias, meses e anos. Pessoas que, aos 60, 70, 80, 90 ou 100 anos afirmam para si com muito orgulho: ainda tenho muito a fazer!

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A nova velhice em construção é real e mais ativa, mais conectada e mais consciente de seus direitos. É mais dona de seu nariz. Isso não quer dizer – é bom que se coloque isso – que com esse novo comportamento, em processo diário de mudança na sociedade, não haja mais entre nossos relacionamentos, etarismos que teimam em existir: preconceitos, exclusões diversas, vivências de solidão e fragilidades persistentes. Não se muda comportamento de um dia para o outro. Temos que resistir. Temos que denunciar. Temos que falar. Temos que escrever. Temos que debater.

Nessa nova velhice, ela passa a ser um tempo de potência de plenitude humana, até porque estamos vivendo mais e vamos viver mais ainda. O Brasil está envelhecendo. Essa é a nossa palavra de ordem. Nosso mantra. Dados recentes do IBGE destacam que 15% da população brasileira já tem mais de 60 anos. Em poucas décadas, seremos um país de maioria idosa. Isso exige não apenas políticas públicas governamentais, mas uma mudança cultural profunda. Precisamos deixar de ver o idoso como alguém “superado” e começar a enxergá-lo como uma pessoa experiente, uma pessoa valiosa e uma pessoa ativa e capaz.

O que isso muda no dia a dia? Muda tudo. Muda o modo como planejamos as nossas cidades. Muda como pensamos o mercado de trabalho. Muda como organizamos os espaços de lazer. Muda como tratamos os nosso pais e os nossos avós. Muda como falamos sobre o tempo que passa em nós. Muda o modo como relacionamos com o nosso corpo. Envelhecer é um ato de coragem, não tenho dúvida. É preciso força para lidar com as perdas, com as nossas limitações e, principalmente, com a nossa finitude. Vivemos um grande paradoxo: rejeitamos a velhice, mas em sã consciência não desejamos morrer cedo. Envelhecer é um ato de coragem e, na minha opinião, é um privilégio. Só não envelhece quem parte antes da hora. E aqueles que vivem muito merecem viver bem.

Outubro é o mês da pessoa idosa. Que esse mês seja mais do que um marco simbólico, mais uma efeméride que o calendário registra. Que o mês de outubro seja um convite diário a nossa reflexão. Aliás, é esse o propósito desse espaço semanal, dessas colunas dominicais: estamos preparados para envelhecer individualmente? E como cidade, até que ponto estamos nos preparando para fazer de JF uma cidade amiga da pessoa idosa?

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A nova velhice chegou e ela quer mais do que respeito. Ela quer vida. Propósito. Voz. Movimento. Afeto. Gente. E, principalmente, recomeços. Conclusão: os novos velhos somos nós. Parabéns pránóis!

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