Que a velhice não é um tema ou um assunto de fácil aceitação por um grande número de pessoas, e que recebe resistência nas sociedades ao longo da nossa história, não é novidade. Estudos especializados demonstram como é variável e como muda de uma região para outra o tratamento dispensado às pessoas mais velhas das diversas organizações humanas. Há um estudo clássico na literatura gerontológica que evidencia com muita clareza e objetividade essa visão antropológica das culturas africanas e asiáticas, no olhar atento e profundo da pesquisadora e grande escritora Simone Beauvoir no seu tratado “A velhice”. Referência para quem deseja entrar no mundo do envelhecimento humano. E principalmente para quem busca refletir e se conscientizar sobre o universo feminino.
Entre nós, no nosso país, e posso afirmar que em várias cidades e na nossa também, esse assunto é muito pouco visto, debatido e comentado publicamente. Não dá mídia e nem dá voto. A velhice, nosso caminho natural na vida, se não subirmos para “o andar de cima” antes da hora, é desprezada e hostilizada no nosso cotidiano de pessoas comuns. Não entra ou caminha muito devagarinho na agenda da organização das políticas públicas. Não temos uma cultura pública favorável ao nosso envelhecimento. Só vemos perdas, doenças, gritos e ausências nesse período existencial que, politicamente, ligando para ele ou não, vamos viver mais. A velhice é vista no debate público, quando (esse) acontece, com muita rejeição pessoal e social. Para alguns setores da sociedade, principalmente para os representantes do mercado consumidor, somente interessado em vender, trata-se da “Melhor Idade”. Embalados pela propaganda consumista somos levados a crer que é nessa fase da vida que podemos realizar todos os nossos sonhos. Tudo são flores. É a velhice do café da manhã de uma família feliz exibido em um comercial de TV de uma marca de margarina. Não é bem assim! Envelhecer não é fácil. Ainda mais quando nós temos velhices e velhices. E um histórico de negação. Temos então, uma velhice real e uma velhice idealizada – romanceada. O que falta em nós é educação para o nosso envelhecimento. Nem melhor idade e nem o pior dos mundos quando estamos velhos. Temos vida. Somos vida. Como em todos as estações temos perdas e ganhos; dor e delícia.
Precisamos falar mais sobre a nossa maturidade para que seja natural a apresentação de fantasmas, medos, conquistas e celebrações de nossas vitorias durante a trajetória. Delícias da maturidade: me apresente algumas delas? Falo de cadeira. Ter a oportunidade de exercitar o autoconhecimento. É fácil e está cada vez mais mecanizado, olhar o que acontece fora, no espetáculo do que fazemos com o que acontece na vida dos outros. Penso que precisamos, e eu tenho feito isso, estar atento para enxergar o que acontece de dentro de nós. Construir um inventário, ou deixar de legado, as percepções, lugares, cafés, mimos, abraços, livros, presentes, gostos, beijos, sensações, cheiros, músicas, pudim de leite condensado, sentimentos, goiabada com queijo, peixes, bolas de futebol, escolhas que nos motivam a existir, a levantar da cama e ter um objetivo, um planejamento de coisas a serem feitas nos dias, que nessa altura do campeonato, são verdadeiramente nossos, porque sentimos o sabor deles. São umas delícias. Outra delícia da maturidade, entre muitas não apresentadas aqui, é ter um propósito de vida ou mais de um. Faça uma pequena lista das coisas que você deseja e realize ações que te ajudem ser o que você sempre quis ser. Vai dar certo!