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E se o fim for amanhã?

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Escrevo a coluna de hoje escorado na música “Pais e Filhos”, do Legião Urbana, 1992, na performance impagável do grande artista Renato Russo: “…É preciso amar as pessoas como se não houvesse amanhã, porque se você parar para pensar, na verdade, não há.”

O convite que te faço, prezados leitor e leitora, é o de refletir sobre a vivência dos nossos dias. A quem amamos, de fato? Como eu experimento e entrego esse amor? Que a vida é um sopro, Clarice Lispector, a grande escritora que teve recentemente seu livro “A paixão segundo GH” transportado para o streaming, já nos apontava há muito tempo. Com a entrada do meu tempo no envelhecimento percebo que o sentido da vida, o sentido da minha vida, está na qualidade das relações que estabeleço com as pessoas. Com algumas pessoas, aquelas que são verdadeiramente amigas e amigos.

Carrego nas mãos uma boa literatura que possa me ajudar a traduzir a experiência humana. Alguns livros me apontam o caminho que devo percorrer pelo futuro. Embora tenha consciência de que os meus dias eu faço no presente e que, de um momento para outro, posso deixar de ser e de estar. Não recomendo a economia do afeto. Nem desprezo a gentileza e nem a generosidade no trato diário.

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Quando eu ouço essa música que citei acima no início dessa coluna, o que me chega é a tomada de decisão de que o que vale mesmo na vida é a construção amorosa entre nós. Nesse envelhecimento em que me encontro entro e saio de mim, chego e me despeço todos os dias. Há um elemento motivador, sim, que é o de ter, cada vez mais, esperança no desejo de buscar ser feliz.

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Me lembro de quando mais novo, já no trabalho com pessoas idosas, quando participava de reuniões de trabalho em algumas instituições de longa permanência, e tinha contato, mais do que visual, com algumas pessoas idosas residentes. Queimava em mim o desejo de ter alguma atividade profissional com essas pessoas idosas que lhes fizessem brilhar os olhos, mesmo que opacos e diminuídos por tanta indiferença e descaso da sociedade, de alguns familiares e da comunidade. O que não mudou quase nada, de lá para cá. Estou me referindo aos anos 90 do século passado.

Penso que ainda dá tempo. Tempo de amar as pessoas como se não houvesse amanhã. Como deseja o grupo musical de Brasília. Ainda dá tempo, sim, de a gente começar a fazer uma nova sociedade. Uma nova cidade de respeito e atenção às pessoas idosas. Dia 9, quinta-feira da semana que vem, no calendário público do nosso município, é o Dia Municipal da Pessoa Idosa. E eu te pergunto, meu caro leitor e leitora: que presente você deseja que a cidade ofereça às pessoas idosas pelo dia delas? E você, pessoalmente, o que daria de presente aos seus idosos?

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Só para ilustrar essa passagem. Um estudo científico recorrente no meio gerontológico, em resposta a essa questão, apresentou as seguintes alternativas de presentes dados às pessoas idosas em datas sociais comemorativas como Dia das Mães, Dia dos Pais, Dia das Avós, Natal: chinelos, pijamas, meias, conjunto sortido de sabonetes, crucifixos, panos de prato. Tudo que remeta ao ficar em casa. Nada ou muito pouco que convide a uma saída para um restaurante, um programa cultural, de lazer ou algum outro tipo de entretenimento. Mas essa velhice caducou. Os chamados novos velhos querem muito mais do que o tricô e o crochê – nada contra essas gostosas ocupações. Eles e elas querem e estão fazendo uma nova velhice. Afinal de contas, amar é para agora!

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