É certo que ainda dá tempo de a gente pensar no nosso envelhecimento. E é fundamental. Mais do que pensar, precisamos nos preparar para ele. Como? Tomando consciência em si, em cada um de nós, em você, formidável leitor/a, em mim mesmo, de que essa realidade é inexorável. Ou seja: querendo ou não querendo, nós todos vamos envelhecer, estamos envelhecendo. A não ser que a gente viaje antes do combinado. Só não envelhece quem parte antes. Parece ser simples. Mas, não é. Nossa cultura rejeita o envelhecimento. Temos que ser e estar eternamente jovens, velozes e furiosos. Há pessoas que pensam assim mesmo: desejam viver muito, mas não aceitam ficar velhas. Como isso é possível? Não é possível.
Há que se considerar, portanto, que no mundo econômico em que vivemos, o mercado antienvelhecimento oferece serviços que vendem a promessa de retardar ou até mesmo evitar esse processo natural de nossa vida, que é envelhecer. Se não temos, e é verdade, o treino educativo desde cedo para a vivência de envelhecer, e muito menos planejamento para essa fase da nossa vida, que pode ser e é muito interessante e produtiva, guardados os “acidentes de percurso”, precisamos começar agora a assimilar uma nova atitude. Uma atitude de trazer o futuro para o presente. É sabido e lugar muito comum afirmar que o tempo passa muito rápido e que a vida é um sopro. Estamos já no primeiro domingo do último mês de 2023. E mais velhos, com certeza. Então, o que esperar?
Em domingos passados, escrevi aqui que a principal preocupação ou o maior medo de todos nós que envelhecemos é o de ficarmos dependentes de outras pessoas para a gestão do nosso cotidiano na execução de atividades básicas e elementares da vida diária: precisar de alguém para alimentar-se, vestir-se, fazer higiene pessoal, sair do quarto pro banheiro e outras “miudezas” do dia a dia. Essas tarefas são desenvolvidas mecanicamente, de olhos fechados; mas, quando advém um declínio funcional provocado por algum acometimento em nossa saúde, o que era muito simples no início, antes dessa mudança de padrão de autonomia e independência, passa agora a representar um desafio na manutenção da qualidade de vida de quem está perdendo essa funcionalidade, realidade essa que pode acontecer com qualquer um de nós.
Por isso se faz necessária e inadiável a promoção em nós do autocuidado, a procura por profissionais especializados em geriatria e em gerontologia. E se a passagem do tempo – o que não é nenhuma sentença – vem com alguma limitação de saúde, temporária ou permanente, é preciso fazer o quanto antes uma listinha de, verdadeiramente, quais são as pessoas que eu tenho em minhas relações de amizade, de vizinhança ou familiares e com as quais eu posso contar para me auxiliar nesse processo instalado de perda de capacidade funcional e de comando nesse meu novo modo de viver. Lembrando que nessa fase da vida, ao longo dos nossos dias, a gente colhe aquilo que plantou.
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