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Luto e envelhecimento

Pitico Fernando Priamo
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Em algumas páginas da literatura estrangeira e mesmo nas páginas da literatura nacional, a velhice aparece representada pela estação do outono; quando não muito, pelo inverno. Ou seja. É uma época da vida, ou melhor, da natureza, em que as árvores começam a perder as folhas preparando-se para o inverno. De imediato podemos fazer uma comparação com a nossa vida: na passagem do tempo vamos ficando secos e com frutos caídos no chão despencados do nosso tronco. Será que é mesmo assim? Trata-se de uma fatalidade? Acredito que não.

Se essa árvore for bem cuidada, sem parasitas, teremos renovação. Como aconteceu com o pé de manga do quintal da casa da minha mãe. O Luiz fez a poda e vieram novas folhas. Hoje o pé está em plena floração e já está com alguns frutos vistosos, sendo alvos preferidos das nada silenciosas, maritacas. Existe sim, essa imagem negativa sobre essa fase da nossa vida; essa imagem invernal, fria e fechada da velhice. Como também existe uma outra associação fácil de ocorrer, que tem a ver com essa, que é a de que esse tempo é o tempo que não tem futuro, é o tempo da morte. Como se naturalmente envelhecer correspondesse a adoecer, e portanto, estamos bem próximos da morte.

A vida não tem lógica. Não tem lógica nenhuma. Morrer a gente já traz com a nossa vida. Como também trazemos muitos instantes em que nascemos e renascemos. Trazemos todas as estações da natureza em nosso tempo de vida. Nascemos e morremos em qualquer idade. E o certo é que para mim o luto não passa, ele fica em mim, está em mim. Pode não estacionar, mas parar, para. Para e fica. É uma pena que só temos um dia no calendário social para lembramos da morte, da morte dos nossos entes queridos. Como foi o dia de ontem. Queria muito que a gente tivesse, desde pequeno, uma educação para a vida que nos ensinasse a morrer. Deixar para pensar na morte somente no envelhecimento não é bom e podemos não ter tempo para a preparação de nossa despedida.

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É o que acontece, geralmente: ficamos numa correria danada para providenciar o sepultamento. Muita papelada. Muitas das vezes, nesse momento de tristeza, de perda, de luto, temos pouquíssimas condições emocionais de assinar algum documento. A morte não poderia nos pegar com a “calça na mão”. Por isso, eu penso que nós precisamos conversar sobre a morte (a nossa, a minha) em vida. Que os nossos desejos e nossas vontades sejam expressos em família e entre amigas e amigos na véspera de nossa viagem. Sendo assim, nessa nova educação, eu acredito que, certamente, o envelhecimento seria menos rejeitado e menos indesejado.

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É um pouco contraditório essa vida, muitos de nós, tememos a velhice, mas o fato é que só não envelheceremos se morrermos antes. Mas ninguém quer a morte, como nos adverte Gonzaguinha, na sua imortalizada canção(1982): “Viver e não ter a vergonha de ser feliz”. Se estamos vivendo mais e, com certeza, vamos viver mais, ainda dá tempo, de a gente construir uma nova sociedade que ao viver mais não deixe de falar da nossa morte, condição essencial para vivermos bem a vida. Não tenho dúvida de que a velhice pode ser e é o tempo de colheitas e da produção de nova

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