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Envelhecimento e desigualdades!

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Prezadas leitoras e leitores, escrevo essa coluna com a expectativa de levantar alguns questionamentos e contrapontos ao senso comum sobre essa fase da nossa vida: o envelhecimento. Entre as muitas desinformações e preconceitos existentes, mitos e verdades, vou destacar alguns.
Homens e mulheres envelhecem da mesma forma e do mesmo jeito. Não é verdade. O envelhecimento por gênero faz toda a diferença no modo de vivenciar os dias que temos pela frente. Pela experiência do meu trabalho com fração da população idosa da cidade, principalmente das pessoas idosas das classes populares, percebo que o envelhecimento da mulher é ativo, é de mais busca e de mais desejo de participação social: em grupos religiosos, em atividades de lazer, recreativas, ações de cultura e de filantropia. O envelhecimento do homem, daquele que participa dos grupos de convivência social, me traz a informação de que nós envelhecemos mais fechados e presos às antigas amizades que o trabalho nos proporcionou, agora aposentados. Não somos animados em executar novidades e temos de batalhar para não cairmos na solidão das horas passadas.

Uma outra percepção reinante no nosso meio cotidiano é a de que, com o aumento da idade, devemos desistir das nossas realizações, principalmente dos nossos sonhos. Essa é uma outra negatividade social incorporada à nossa educação, e que precisamos criar uma outra forma de sustentação. Devido ao aumento real da nossa expectativa de vida, ou seja, nós estamos e vamos viver mais, isso significa que, consequentemente, teremos mais tempo de vida para a gente correr atrás dos nossos desejos e das nossas pretensões. Aqui não me refiro a conquistas de bens materiais, necessariamente, mas, sim, a construção de realizações pessoais, no campo do afeto e do amor, das amizades e da realização de propósitos de vida. A criação de memórias. O legado que nós deixamos.

O campo do envelhecimento é, por si só, um campo de grandes desigualdades. Na contramão mesmo do que reproduz as esquinas de nossas ruas. Envelhecer é fazer parte de uma imensa floresta rodeada por árvores que, num primeiro momento, parecem entre si, e que, por muito pouco, não são diferentes, mas, que, de perto, guardam outras naturezas, muitos silêncios e tantos mistérios. Costumo dizer, metaforicamente, que viver o envelhecimento humano, no fundo, é muito diferente do que vivem as águas paradas do lago do Museu Mariano Procópio. As águas da velhice são profundas e, muitas das vezes, turvas, nem sempre são cristalinas. As diferenças que vivemos em todas as nossas relações sociais produzidas pelo sistema social capitalista incidem diretamente na composição de nosso envelhecimento. Não envelhecemos na estratosfera, envelhecemos no chão diário de nossas lutas. O conteúdo do envelhecimento é carregado de pouquíssimas informações científicas. Precisamos produzir cada vez mais estudos e pesquisas na área da geriatria e da gerontologia para oferecermos matérias sérias e fidedignas à nossa sociedade, diante de um novo quadro populacional crescente e acelerado, que é a presença marcante de mais pessoas idosas em nossa convivência.

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O universo grisalho contempla todas as diferenças de envelhecer e reúne as várias condições e possibilidades humanas de existir. Se não levarmos em conta as estradas que cada um de nós percorreu ou vem percorrendo, nossos horizontes ficam muito limitados e reduzidos. No mundo da velhice, a identidade e a subjetividade de todos nós que envelhecemos precisam ser respeitadas e compreendidas.

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