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As mães deveriam ser eternas

coluna marcos
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Quem não se imaginou escalando as paredes de um hospital, depois de ver a saga de Jihad Al-Suwaiti, na Cisjordânia, para ver da janela, de fora do quarto, a mãe internada com Covid-19? Proibido de entrar devido ao risco de contaminação pelo novo coronavírus, o rapaz, de 30 anos, não se conformou e passou a visitá-la pela janela do quarto. Mas, para isso, ele precisou escalar a parede do hospital. O que é capaz a força do amor, não é verdade?

Essa história chegou até mim quando tomava minha xícara de café da manhã e vasculhava os sites para inteirar-me das notícias daquele dia. Entre um gole e outro, imaginei se fosse minha mãe, meu pai ou uma pessoa amada com quem partilhei uma vida inteira. Essa doença, que é grave e ao mesmo tempo ignorada por muitos, atravessa o planeta sem respeitar barreiras físicas ou do coração, resultando em histórias de dor e sofrimento.

Se existe a turba que ecoa sem dó nem pena refrões como “E daí” e “Não sou coveiro, tá”, menosprezando a comoção dos que já perderam seus entes queridos, essa bela cena de carinho protagonizada pelo filho da mulher palestina marca, de forma contundente, as muitas realidades e diversas faces dessa pandemia.

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A atitude desse jovem comoveu o mundo, pois desde que sua mãe, que também lutava contra um câncer, foi internada no início de julho até a morte dela, no último dia 16, ele escalou as paredes para zelar por ela. Em entrevista à TV da Palestina, Jihad contou que não sabia como tinha encontrado forças para fazer o que fez. “O único lugar para acompanhar era daquela janela. Como cheguei lá? Sinceramente, não sei”, revelou. “Se eu tivesse a possibilidade, daria minha vida, minha alma, para que ela ficasse viva por mais um tempo. Cuidem dos velhos para não sentir a amargura que senti”, advertiu o escalador de paredes.

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Mas, como nem tudo são flores, houve quem tentou macular a história do rapaz. Nesse mar de irracionalidade e perversidade que se tornou a internet nestes tempos, apareceu gente para dizer que o homem quis se promover com a morte da mãe, protagonizando cenas dignas de filmes de Hollywood.

Houve, inclusive, gente que disse que essa era mais uma historinha bonitinha que a imprensa forjou para vender jornal e ter mais audiência. Surgiram também os fiscais de nomes para dizer que o nome do jovem, Jihad, significa guerra santa contra os infiéis, e que uma mãe capaz de escolher um nome desse não seria merecedora de compaixão.

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O fato é que o ser humano é capaz de tudo. Com ódio, ele não mede palavras para ferir e passar por cima dos sentimentos alheios. A pandemia, mesclada à polarização ideológica, tem sido ótima para trazer à tona monstros até então contidos dentro das pessoas. A banalidade envolve o linchamento nas redes sociais, e quem o promove se arvora como mensageiro da sabedoria, da justiça e ética.

Mas, se o ser humano está imbuído de amor, também nada o detém. Jihad deu provas disso! As mães deveriam ser eternas, não é mesmo, caro leitor? De mim, depois de ler a história do escalador de paredes, restaram os olhos úmidos enquanto bebia mais uma xícara de café!

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