Sempre que alguém vem pela primeira vez à minha casa e olha para minha estante de livros, dispara: “Você já leu todos?”. E olha que não são tantos assim. Eu até gostaria de ter mais, mas, para ter mais, é preciso ter mais espaço. Minha resposta para saciar a curiosidade do meu visitante é sempre a mesma: “Eu não li todos. Já li a maior parte deles. Há alguns aí que acho que nem vou ler”. Há quem entenda. Outros acham estranho este hábito de mantê-los nas prateleiras apenas para acumular poeira.
Mas, para quem gosta de livros, a lógica não funciona dessa maneira. Tê-los ali na estante, bem perto da gente, é também uma questão de afeto, mesmo que eu tenha a certeza de que alguns jamais serão lidos por mim. Mas estão ali para cativar outros leitores da casa. Quem ama os livros vai entender isso que estou falando.
Também não deixo que sejam repositório de poeira e de teias de aranha. Todo sábado de manhã, uso o meu espanador de cabo vermelho e pelo sintético azul para não deixar o pó acumular. “Que tarefa chata”, muitos dirão. No entanto, eu a cumpro ouvindo uma boa música e passando os olhos pelas lombadas, lembrando as histórias já lidas e aguçando a vontade de ler aquelas ainda desconhecidas. Dá outro sentido ao ato de limpeza.
E por que escolhi falar de livros agora? Porque neste mês foi comemorado o Dia Mundial do Livro, na data de 23 de abril, e não gostaria de deixá-la passar em branco, mesmo já com algum atraso. Há um tempo, quando essa minha modesta biblioteca ainda era bem menor do que é hoje, fiz um post dizendo que os livros eram minhas armas para lidar com a estupidez que cobria o Brasil de cabo a rabo. É bem isso, guardar esses livros, de alguma forma, ameniza nossos pensamentos diante do obscurantismo. É como se fosse um porto seguro para onde posso voltar, quando tudo no mundo exterior ao meu redor está tomado pelo caos.
Em momentos assim, o conforto que o livro traz, o aconchego de uma boa história, a identificação com certos personagens e situações, a possibilidade de descobrir novos mundos e enxergar nossa sociedade pelo olhar do outro que escreve, pode ser tudo o que precisamos para encontrar mais uma porta em nossa vida. Porém isso, repito, só compreende quem tem amor pelos livros. Aos que ainda não compreendem, não faço julgamentos. Cada um ama o que melhor lhe faz bem. Há quem ame os automóveis, as plantas, uma coleção de bibelôs. Apenas faço votos para que, algum dia, também sejam fisgados pela leitura e conheçam o que é ter amor pelos livros.
Em face de tanta tecnologia, o livro, à primeira vista, pode parecer obsoleto, mas não se engane, pois, em certo momento de nossa história, ele já foi tecnologia de ponta. E ainda é antídoto contra desinformação e ignorância. O livro pode salvar e salva.