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Quando as máscaras caem

marcos araujo coluna1
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Há duas semanas, escrevi uma crônica na qual refletia sobre o ato de usar máscara ser também um ato de cidadania. O texto ganhou alguns elogios, mas foi repudiado também, o que é normal! Mas, dentre os comentários raivosos, um chamou-me a atenção. Indignado, um leitor, pelo qual tenho imenso respeito e concordo que ele tenha o direito de pensar e de se expressar de forma contrária a mim, disse que meu pensamento era equivocado. Segundo ele, enquanto eclodiam denúncias de desvio de verbas para hospitais durante o enfrentamento da pandemia, por parte de gestores públicos, eu estava preocupado com o uso de máscara e com o entendimento do conceito de cidadania pelo povo brasileiro.

O “puxão de orelha” desse estimado leitor me fez pensar mais ainda sobre o quanto nos falta para que sejamos cidadãos de fato e que, de forma coletiva, sejamos empenhados a fim de construir uma nação que se notabilize pelo bem comum. Ora, pensei, a cidadania começa pelas pequenas coisas do nosso dia a dia. Em cada ato comezinho que preenche nossa vida. Assim, a simples ação de colocar a máscara para sair de casa, pensando que você está fazendo aquilo para a sua autoproteção e para a dos outros, é, sim, um exercício de cidadania. Da mesma forma que respeitar a ordem da fila e o semáforo fechado, não jogar lixo na rua e atravessar na faixa de pedestre são atos de cidadania, porque implicam no bem de todos.

Não dizem que os pequenos gestos geram, sim, grandes ações quando praticados de forma cívica? Pois é, o contrário também provoca grandes consequências. Se somos uma sociedade que negligencia o uso de máscara, em meio a uma epidemia, porque não compreendemos que esse pequeno gesto pode salvar vidas, como não pensar que autoridades públicas não seriam capazes de corrupção mesmo em um momento tão grave? Esses gestores que ora ocupam posições de mandatários foram forjados nessa sociedade que não entende o que significa cidadania.

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Se eu concordo que posso agir de forma desviante, desrespeitando regras, cometendo pequenos delitos diários, de que forma vou agir diante de grandes questões, grandes decisões, grandes quantias de dinheiro público e com o poder nas mãos? Por isso, usar máscara é questão de cidadania, assim como não roubar dinheiro de hospital também é questão de cidadania. Ser cidadão é algo que devemos exercitar sempre frente a pequenos ou grandes feitos. Devo ser cidadão ao ceder meu assento no transporte público coletivo para uma pessoa mais velha, da mesma forma que devo ser cidadão caso me transforme em um gestor público com responsabilidade de administrar verbas para serviços destinados à população.

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A questão do uso da máscara virou a causa de frequentes episódios de violência durante a pandemia de Covid-19, sejam por meio de agressões verbais ou vias de fato. Nesta semana, houve o exemplo do desembargador que insultou o guarda, em Santos, rasgando uma multa pelo não uso de máscara. A máscara dele, literalmente, caiu! Exemplos assim de quem deveria dar o exemplo não faltam.

O antropólogo Roberto da Matta, notável conhecedor do ethos das gentes brasileiras, em entrevista concedida à imprensa, disse que o brasileiro considera que obedecer é sinal de inferioridade, pois quem manda é quem dá as ordens. Mais uma vez estamos diante da necessidade do exercício da cidadania, porque as regras, quando voltadas para o bem de todos, precisam ser respeitadas. Isso também é ser cidadão!

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