Najila e Neymar ganharam a nossa atenção nos últimos tempos e foram parar no tribunal da Internet, essa instância impiedosa que condena sem que a verdade seja apurada e evidenciada. Não pretendo, aqui, discutir se o atleta é culpado ou não, porque isso é um trabalho para as autoridades que investigam o caso. Nem sobre a conduta da modelo que tem sido tratada de forma negativa pelos comentaristas de plantão.
Algo, aliás, que não é prerrogativa dela neste caso que envolve um jogador de futebol milionário, mas que é compartilhado pela maioria das mulheres que quebram o silêncio e levam uma denúncia até o fim. A filha da vizinha, por exemplo, conhecida desde a infância, se andar fora da linha, irá receber o mesmo tratamento da vizinhança. A condenação da moral da mulher numa sociedade patriarcal sempre foi considerada dentro da normalidade.
Como jornalista, o foco da minha reflexão, nesta coluna, é o comportamento das pessoas na internet, principalmente nas redes sociais, ao lidarem com o fato, transformando a situação em uma arena para a barbárie.
A maneira como se configura os ambientes das redes sociais produziu uma situação insólita, na qual é possível se escolher que tipo de notícia o indivíduo irá consumir. Pois bem, essa estrutura interligada que conecta a todos gerou um horizonte de polarização de opiniões. Dessa forma, o ambiente das redes sociais, como o próprio ambiente digital de modo geral, favorece uma certa valorização do efeito da notícia que passa a prevalecer sobre o seu conteúdo.
Essas duas inclinações associadas criam fenômenos nos quais a realidade é antecipada e até mesmo distorcida. Os consumidores de notícias se transformaram em autores, que muitas vezes alteram e distorcem a realidade, querendo ver somente aquilo que decidem enxergar.
Pesquisadores da área do mundo digital têm apontado que os julgamentos realizados nas redes sociais causam um impacto concreto na vida das pessoas. Isso tem ficado cada vez mais claro quando percebemos que, no Brasil, esse mecanismo das redes sociais têm reforçado uma característica comum de outros lugares do mundo, que é o linchamento. O mais terrível é que muitos casos de difamação na internet ou de notícias veiculadas de forma irresponsável culminam em linchamentos de fato, ultrapassando os limites da web e de forma assustadora!
Passamos a viver sob a égide da barbárie, em que a justiça é feita com as próprias mãos, tanto no mundo digital por meio de toques e cliques, quanto no mundo real, como aconteceu com a dona de casa Fabiane Maria de Jesus morta, brutalmente, por vizinhos, em 2014, após ser acusada de magia negra, em Guarujá (SP), depois que notícias falsas se espalharam pelas redes sociais.
Em meio a tanta antiutopia, não é difícil a gente presenciar ou até mesmo participar de linchamentos virtuais sem se dar conta. E é, neste momento, infelizmente, que percebemos que a lógica da internet coloca todo mundo culpado até que se prove o contrário.