Não dilapidaram apenas rios e matas
Quiseram exterminar sua cultura
Não dilapidaram apenas rios e matas
Quiseram riscar essa gente do mapa
Não dilapidaram apenas rios e matas
Abusaram de seus corpos sem capa
Não dilapidaram apenas rios e matas
Trocaram suas vidas por gramas de ouro
As roças eram fartas
Os meninos faziam caça
As meninas, a pesca
As miçangas enfeitavam as mulheres
Mas o vermelho, outrora de urucum, é de sangue
Chegaram de barco
Espalharam mercúrio
Comeram a terra
Atacaram a tiros
Ofereceram bebida
Roubaram comida
Deixaram aquela gente
em pele e osso
Não dilapidaram apenas rios e matas
Tombaram velhos e crianças
Não dilapidaram apenas rios e matas
Alastraram doença e morte
Não dilapidaram apenas rios e matas
Desprezaram ancestrais
Deixaram aquela gente à própria sorte
Agora eles fogem
e enquanto fogem
tentam transformar as vítimas
em seus algozes,
covardes.
Na terra, essa gente é originária
mas é tida como primitiva e não serve para ficar viva
nem ser estatística
apenas apagão.
Promoção da morte