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O “salve-se quem puder” não vai nos salvar

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Que tipo de país estamos virando? Que tipo de Brasil vamos deixar para a próxima geração? Que tipo de gente estamos sendo? Que tipo de ser humano queremos ser? Essas questões povoam os meus pensamentos a cada vez que recebo uma notícia que evidencia os caminhos que nossa sociedade vem preferindo trilhar: o da barbárie, o da não conciliação, o do salve-se quem puder.

Digo isso, porque as regras do jogo democrático passaram a ser ignoradas despudoradamente. Em uma democracia, é preciso pensar no bem-estar de toda a população, sem privilegiar indivíduos ou classes sociais. Mas, no Brasil em que vigora uma política de morte, que bate recorde de 2.798 novos óbitos por Covid-19, em 24 horas, o respeito ao próximo não tem mais o seu lugar.

Exemplos disso são muitos. Um deles chamou bastante a atenção no último domingo, quando protestantes contra medidas de isolamento social e contra o fechamento do comércio fizeram buzinaço na porta do Hospital Ernesto Dornelles, uma das referências no tratamento de Covid-19, em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul. O hospital é o segundo em maior índice percentual de ocupação de UTIs na capital gaúcha. A manifestação ficou conhecida como “carreata da morte”. 

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No mesmo domingo, protestantes contra as medidas do Governo estadual no combate à pandemia passaram pela casa da mãe do governador do Espírito Santo, Renato Casagrande (PSB). Segundo ele, sua mãe tem 88 anos e diversas comorbidades. Nem assim os manifestantes se furtaram ao direito de gritar palavras violentas na frente da residência. 

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Esse tipo de atitude, de certa forma, escancara aspectos escandalosos, beirando à crueldade, que permeiam esses grupos que agem por trás de justificativas de que é preciso salvar a economia. Resgatar a economia se faz urgente sim, e estamos esperando políticas de Estado, para que isso comece a acontecer. Mas não é agindo de forma desumana que vamos tirar o Brasil desse túnel que parece não haver luz no final. 

Precisamos de uma política pró-vida, que não incentive essas atitudes, que não nos coloque sob a chancela de párias, porque nossos vizinhos na América Latina já começam a nos isolar, temendo que cepas do vírus brasileiro ultrapassem suas fronteiras. É preciso uma mudança de rumo em nossa política de saúde, para que pessoas capazes e competentes se aproximem do Governo e possam colaborar nas medidas de combate ao avanço do coronavírus. Não é possível mais que aceitemos esse ambiente de hostilidade e covardia, porque, quem sofre, é a população, que necessita de assistência médica e que precisa voltar a trabalhar a fim de que a economia volte a prosperar. 

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Não é apenas nossa sobrevivência que está em disputa. Estamos em um momento de emergência e devemos refletir em que mundo vamos habitar e que humanos seremos depois que a pandemia passar. Como diz a premiada jornalista Eliane Brum, que há tempos vem nos alertando, as respostas para essas questões vão depender do modo como vivemos a expansão do coronavírus pelo planeta. 

Termino este texto com a mesma reflexão proposta pela jornalista: “o pós-guerra global do nosso tempo vai depender de como escolhemos viver a guerra. Não é verdade que na guerra não há escolhas. A verdade é que, na guerra, as escolhas são muito mais difíceis e as perdas decorrentes dela são muito maiores do que em tempos normais.”

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