Sabe quando perguntam para uma criança o que ela quer ser quando crescer, e ela responde, mas sem ter a mínima ideia do que realmente ela gostaria? Em boa parte da minha infância, quando dirigiam essa pergunta a mim, dizia que queria ser engenheiro. Todavia, naquela época, não tinha a menor noção do que fazia esse profissional. Sabia apenas que ele era responsável por desenhar casas. Como eu gostava muito de desenhar, algo que gosto até hoje, dizia que seguiria essa profissão.
Mas, lá por volta dos 10 anos, quando a leitura já era muito presente na minha vida, e as palavras já tinham me enredado, comecei a pensar que seria jornalista ou professor. Acabei jornalista, mas, atualmente, em processo de formação para ser professor. Ao iniciar esse texto recordando meu tempo de criança, minha intenção é mostrar o quanto a educação é importante na vida das pessoas. Isso ninguém nega. Da mesma forma, ninguém discorda de que um bom professor faz a diferença na nossa formação.
Entretanto, vivemos em uma sociedade em que, por mais que bons professores sejam o desejo dos pais para seus filhos, pouquíssimos pais sonham com que seus filhos se formem professores. Isso torna evidente o quanto é duro o trabalho de educar, “difícil e necessário”, pontua o grande educador Paulo Freire, ressaltando que, mesmo assim, nossa sociedade permite que esses profissionais continuem sendo desvalorizados.
Freire enfatiza que “apesar de mal remunerados, com baixo prestígio social e responsabilizados pelo fracasso da educação, grande parte resiste e continua apaixonada pelo seu trabalho.” E é assim mesmo! Convivo com muitos professores. A reclamação sempre gira em torno dos baixos salários, da pouca ou quase nenhuma estrutura para desempenhar suas funções, porém, apesar da desvalorização, sempre há um brilho no olhar para contar sobre um projeto bem-sucedido com seus alunos ou sobre o progresso dos estudantes. O que vou dizer agora é um clichê e até perigoso, porque é usado, muitas vezes, para manter esse estado de coisas, mas ser professor é, sim, algo que tem a ver com vocação, com paixão, com brilho no olho.
Quem me conhece sabe da minha admiração pelos professores. No ano passado, na coluna de homenagem ao dia deles, contei a história do quanto eu tinha saudades da minha primeira professora, a Tia Celeste. Contei que depois daquele ano em que ela foi minha professora e me alfabetizou nunca mais a tinha encontrado ou recebido qualquer notícia dela. Ela leu a coluna e me encontrou nas redes sociais, e hoje trocamos mensagens. Que alegria, para mim, saber que ela está bem e o quanto ela dignifica a docência. Ela é um professora nata, com “p” maiúsculo. E esse texto é em homenagem à Tia Celeste, à professora Marisa, minha esposa, que mantém o olhar iluminado sempre ao falar de suas aulas e de seus alunos, e a todos os professores que passaram pela minha vida.
Vou recorrer mais uma vez a Paulo Freire para desejar que o 15 de outubro sirva também para que governantes, estudantes, pais e sociedade como um todo repense nossos papéis e atitudes, pois “com elas demonstramos o compromisso com a educação que queremos”. Freire dizia que os professores não devem descuidar da missão de educar, de ensinar “as pessoas a serem águias e não apenas galinhas. Pois, se a educação sozinha não transforma a sociedade, sem ela, tampouco, a sociedade muda”.