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Estamos todos no elevador

coluna jmarcos
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Nós, brasileiros, fomos colocados dentro de um elevador e não sabemos em qual andar vamos parar. Estamos diante de tantas incertezas e, ao mesmo tempo, tão assustados com tudo que temos assistido e até sentindo na própria pele, que o maior medo é de a porta se abrir e estarmos à beira de um abismo do qual não haja escapatória.

Estou usando a metáfora do elevador, porque, ao se pensar sobre o Brasil, é preciso pensar acerca de Miguel. Um menino de 5 anos, único filho, único neto, morador da periferia de Recife, morto depois de cair do nono andar, uma altura de 35 metros, porque sua existência não tinha importância para quem deveria zelar por sua vida enquanto sua mãe zelava por outra vida: a de um cãozinho, cuja dona estava ocupada, pintando as unhas, e deixou a criança sozinha no elevador. É difícil acreditar que, no século XXI, nossa nação tenha que contar e se assombrar com narrativas como se ainda estivesse no século XIX.

Nessa história trágica, uma pergunta é necessária: e se o filho que tivesse morrido fosse da patroa e estivesse sob os cuidados da empregada? Com certeza, a empregada já estaria presa, porque ela não teria vinte mil reais, na hora, para pagar sua fiança. Essa é uma questão que nos leva a pensar sobre as leis brasileiras, que existem sem levar em conta a desigualdade social.

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Tal situação nos joga na cara a forma como nosso país faz uso da justiça de dois pesos e duas medidas. Uma prova irrefutável dos efeitos da polarização entre pobreza e riqueza no nosso sistema jurídico, colocando em xeque a ideia de que os indivíduos devem ser tratados de forma imparcial pela lei e por aqueles responsáveis por aplicá-la.

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O racismo, essa ferida que a gente carrega e é muitas vezes negado, atropela todo esse processo e redunda na exclusão social, no pensamento de que as vidas dos negros e também dos mais pobres não têm importância. Há os loucos perversos que sustentam a ideia de que é possível, no Brasil, haver algum tipo de pureza de raça, como se não tivéssemos sido concebidos na miscigenação.

Sempre usei o espaço desta coluna para ressaltar a educação e vou concluir este texto, enfatizando que um dos caminhos para arrancarmos o racismo da nossa vida é a educação, que considero uma medida capaz de fazer com que as novas gerações não sofram desse mal. Tomando emprestado as ideias da ativista pela igualdade racial Luana Génot reitero a necessidade de que seja realizada uma intervenção na base, na educação infantil. Mas, faz-se relevante pontuar, os bem-educados também são acometidos pelo racismo. Por isso, do que precisamos, é de uma educação antirracista, que valorize protagonistas negros, que já existem na construção de nossa história, mas que foram invisibilizados.

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Não é possível que o Brasil apague a figura do negro enquanto formador de conhecimento. É preciso ter políticas objetivas para colocar autores e autoras negros dentro da sala de aula, além de medidas que contribuam para haver mais negros entre o corpo de professores e de alunos, incluindo nos espaços pessoas de cores e raças diferentes com equanimidade.

Também é necessário educar adultos, que são exemplos para os mais jovens, e termos a consciência de que fazemos parte de uma estrutura, cabendo a nós impedir a propagação do racismo. É termos entendimento de que somos parte do problema, mas também parte da solução. Precisamos entrar no elevador e saber, exatamente, o andar em que vamos descer!

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