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Ressurreição de nossa humanidade

SOLIDARIEDADE
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Hoje é domingo de Páscoa e se espera que as pessoas tenham se preparado para receber a mensagem que essa data significa. Penso isso porque, ao longo das últimas semanas, o que mais se viu foi a ideia de consumismo que encobre o verdadeiro sentido deste dia. Impossível não reparar e não se incomodar (bastante) com o apelo das marcas de chocolates e de todos os outros produtos que giram ao redor dessa celebração. A todo momento, a cada entrada na internet, uma nova propaganda surgia na tela, em uma tentativa de sequestrar nossa atenção. Promoção disso e daquilo, tipos inusitados de ovos, brindes surpresas e tantas outras formas de persuasão, a fim de convencer sobre a melhor e mais vantajosa mercadoria a ser comprada.

Fora da Web também senti o mesmo incômodo. O supermercado estava apinhado de gente. Gôndolas e mais gôndolas de chocolates. Ovos com preços exorbitantes. Filas quilométricas. Estacionamentos lotados. Nada disso, no entanto, parece-me ter a ver com a Páscoa. Toda essa movimentação, que substitui uma verdadeira preparação para o dia de hoje, serve apenas para fomentar o lucro.

Claro que não se trata de condenar o consumo de ovos de Páscoa. Tento apenas chamar a atenção para a proporção de importância que nossa sociedade reserva para apenas um aspecto da celebração em detrimento de outros. Enquanto do lado de dentro do supermercado podia-se observar que a dificuldade era escolher a melhor marca para agradar aos filhos, do lado de fora, sentada na calçada, uma mãe com três crianças tentava escolher, naquele dia, qual delas ficaria com a menor porção de comida, já que não conseguia alimentar a todas da mesma forma.

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Na alienação embrulhada com papel metalizado e laço de fita colorida pelo consumismo, esquecemos o real sentido da Páscoa, e a cena do lado de fora do supermercado, tão comum também nas esquinas dos grandes centros urbanos, deixa de ser percebida. Aquela família que não vai ter ovo de Páscoa neste domingo é invisibilizada, propositalmente, uma vez que a existência dela nos deixa constrangidos, porque sua presença pesa nas consciências, lembrando-nos da nossa desigualdade social.

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“O que posso fazer?”, muitos irão se questionar. “Nossa sociedade é injusta e, sozinho, eu não posso mudar”, outros vão se justificar. A mudança, que requer um longo caminho, exige um primeiro e pequeno passo, que pode ser uma tomada de consciência. Talvez isso não seja possível agora, mas, quem sabe, para breve?

Estou falando de a gente tentar não se deixar levar pela alienação promovida pelo consumismo. De entender que o sentido da Páscoa tem mais a ver com solidariedade do que com gastança e com personagens com olhos arregalados que pulam de dentro dos ovos de chocolate. A Páscoa, mesmo para quem não é cristão, precisa ser compreendida como um convite para que seja possível, aceitar em nós, a ressurreição de nossa humanidade, que anda cada vez mais perdida.

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