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Para que haja mais filósofos

Coluna Marcos 3 miltoques - Para que haja mais filósofos
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(Foto: Divulgação)
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Após terminar a leitura de Estela sem Deus, de Jeferson Tenório, fiquei a pensar acerca dos temas que transitam pelo livro. Uma obra com história contundente, que reverbera os anseios da sociedade atual em busca de mais equidade e justiça. Poderia destacar aqui como a experiência da protagonista Estela traz à tona todas as dificuldades enfrentadas pelas mulheres negras em um país marcado pelo machismo e pelo racismo.

Mas quero ressaltar outro viés que percebi ao longo da minha leitura. Estela é uma adolescente que sonha em ser filósofa. Bonito isso, não é mesmo? Com uma rápida busca no Google, é possível saber que, para ser filósofo, é preciso fazer-se capaz de transcender, de avaliar e de atribuir sentido à própria vida e ao mundo em que se vive, buscando, respectivamente, transformá-la e transformá-lo, sempre que se fizer necessário. Nesse sentido, considero que estamos, de fato, precisando de muitos filósofos, já que a vida e o mundo carecem de transformações para o nosso bem-estar.

A partir desse desejo da protagonista, passei a refletir sobre o que fizemos ao longo das últimas décadas, em que minamos o desejo dos jovens de serem filósofos ou professores. Questiono isso porque o livro se passa entre o final dos anos 1980 e o início da década de 1990, tendo como pano de fundo a eleição e o impeachment de Fernando Collor.

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Naquela época, seguir uma carreira na licenciatura era um sonho. Eu mesmo guardava o desejo de cursar Letras e Jornalismo. Hoje, sou formado nas duas áreas. Quero refletir sobre como, atualmente, com a contínua desvalorização dos trabalhadores do setor da educação – já que a destruição da educação brasileira é um projeto que se faz cada vez mais nítido -, os cursos de formação de professores estão mais esvaziados. Soma-se a isso, o fato de que o mercado de trabalho, da forma como o conhecemos, se derrete, tornando-se incapaz de absorver quem se qualifica.

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Tentam colocar na nossa cabeça que empreender é a solução, mas que solução é essa? Na maioria dos casos, ela culmina em falta de direitos e de segurança, jornada de trabalho sem hora para terminar, impondo uma rotina que beira a escravização e com baixa remuneração. O empreendedorismo ainda é a solução para alguns, não para muitos. As ocorrências de sucesso podem ser contadas nos dedos das mãos.
Em sala de aula de escola pública, que, como sabemos, sofre da falta de sorte de investimentos, vi muitos adolescentes questionarem o valor do ensino. Muitos deles querem se lançar ao empreendedorismo por meio das redes sociais, porque não conseguem encontrar sentido no que têm à sua disposição na escola. E, aqui, também vale dizer que a estrutura da educação que temos deve passar por reavaliações, a fim de se adequar às novas demandas.

Quem trabalha com educação e a defende sabe que o melhor caminho para conquistarmos um Brasil democrático, sem injustiça social, com condições de vida dignas e com oportunidades de cada brasileiro e brasileira conquistarem seus sonhos, seria um maior investimento na educação.

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Voltando à nossa protagonista, Estela, a vida dela decorre em um cotidiano de violência, privação e desamparo. Ela é representante do cotidiano de todos os que não nascem privilegiados em um país de enormes disparidades. Contudo, com o espírito corajoso de uma aprendiz de filósofa, a adolescente não desiste de questionar o mundo e sonhar o caminho para a própria liberdade. Que sua história, contada na ficção, mas ao mesmo tempo tão preenchida de realidade, possa servir de inspiração para outros jovens corações.

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