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Saudade da gangorra

REPRODUCAO
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Quando passei para o terceiro ano do ensino primário, que hoje é conhecido como ensino fundamental, precisei mudar de escola. Minha família havia se mudado, e o colégio que frequentava, desde o início de meus estudos, ficava longe de minha casa nova. Essa mudança tinha tudo para ser traumática, dado o apego que sentia pela minha primeira escola e pelos colegas, que, naquela época, pareciam já ser os amigos de toda uma vida. Mas minha tristeza foi superada, porque na escola para a qual fui transferido existia uma gangorra. Era uma novidade que não fazia parte das brincadeiras no colégio anterior.

Sem ainda conhecer as outras crianças do novo ambiente escolar, foi nesse brinquedo, que só é possível se divertir na companhia de alguém, que novos laços de amizades se construíram. O balanço da gangorra me distraía da saudade da antiga escola, enquanto enchia meu coração de esperança do que estava por vir. O equilíbrio necessário para o sobe e desce era o elemento apaziguador para sentimentos infantis diante de novas descobertas.

E por que deixei vir à tona essa lembrança de um brinquedo de criança tão prosaico? Porque estamos vivendo em desequilíbrio e em meio ao caos de narrativas sobre liberdade de expressão. Falta, neste momento, para uma parcela muito grande das pessoas que estão à nossa volta, o equilíbrio do movimento da gangorra para o entendimento de que crimes e discursos de ódio perpetrados nas redes sociais e no submundo da internet nada têm a ver com cerceamento do direito de se expressar.

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A tal polarização, da qual ainda não conseguimos escapar e cujo fim não se vislumbra o horizonte, insiste em deixar estático apenas um dos lados da gangorra. Seu balançar fica interrompido enquanto quem está em uma das pontas não concorda e não tenta entender como funciona a dinâmica da brincadeira. Em países democráticos, liberdade de expressão é direito garantido. Ter assegurada a possibilidade de opinar, como faço aqui, é uma regra que deve ser inviolável. Todavia, não se deve confundir esse compromisso com incitação à violência, racismo, difamação, calúnia, blasfêmia e conspiração.

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Quando faço essa reflexão pelo viés da lembrança da gangorra que me divertia na hora do recreio, quero chamar atenção para o equilíbrio. Para que se evite pesos e medidas diferentes em apenas um dos lados, prejudicando o discernimento do que é crime e do que é liberdade para manifestação de opiniões e de ideais. Buscar conhecimento a fim de se esquivar da desinformação é um processo que se faz fundamental, assim como manter o equilíbrio durante o ato de subir e descer na brincadeira de balanço.

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