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Que comece a revolução

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Aprender a se desumanizar. Dói pensar que isso seja possível, mas é realidade. Com todas as possibilidades que se tem hoje de tecnologias, de informação, de progresso, fica difícil acreditar que não se esteja mais perto de uma real cultura de paz e que a desumanização, cada vez mais, deixa marcas dolorosas. A tragédia que se abateu sobre as escolas de Aracruz, no Espírito Santo, é um dos vestígios da perda da essência humana que assola o Brasil. É doído pensar que alguém, com apenas 16 anos, tenha aprendido a atirar, aprendido a se armar, aprendido a matar, desumanizando-se. É pungente pensar no tipo de experiência, de ensinamento, de visão de mundo, que esse jovem recebeu ao longo de sua vida até o momento em que teve coragem de apertar o gatilho e atingir sua primeira vítima. O resultado dessa sua incompatibilidade diante da sua humanidade é a morte de quatro pessoas e outras que ficaram feridas. Mas ele também é uma presa de um sistema que chancela o uso indiscriminado de armas e, pior, tenta fazer disso uma política de estado.

Ao longo do ano, escrevi muitas vezes aqui neste espaço sobre a importância da educação e sobre como ela é valiosa para que se caminhe rumo a uma sociedade que tenha apreço às diferenças. Que saiba lidar de forma harmônica com a diversidade que constitui os seres humanos. Muito do que foi conquistado de avanços na área do respeito ao próximo se perdeu nos últimos anos. E isso graças a um ambiente político que foi forjado na base de discursos de ódio, que criou um clima favorável para manifestações machistas, homofóbicas, racistas e contra os mais pobres. 

A mãe da menina Selena Sagrillo, morta no ataque a escolas em Aracruz, divulgou uma carta em que compartilha o sofrimento pela perda da filha e pede amor, piedade e segurança para as crianças. Em um trecho, ela diz: “Que a partida da Selena seja o início de uma nova revolução, assim como ela gostava, mas uma revolução baseada no amor e segurança para nossas crianças de todas as etnias, regionalidade, classe social e crença”.

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É preciso pensar no tipo de sociedade que está sendo construída e ser essa revolução citada pela mãe de Selena, para mudar o que está perto da gente e para exigir das autoridades constituídas ações efetivas e definitivas contra as violências e a favor da paz, da cultura, da justiça e da educação. A escola não é lugar de morte e de tiros, mas de vida e de livros.

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O que aconteceu em Aracruz não faz parte da nossa cultura, nem pode fazer. Se é possível aprender a se desumanizar, o contrário, com certeza, também é concebível. É nisso que a sociedade precisa apostar. São muitos desafios para serem superados. Todavia, ou se faz isso ou se aprofunda na bestialidade. Que comece a revolução!

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