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O jornalismo vai continuar a existir

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Dois de novembro também é marcado pelo dia mundial de combate à impunidade dos crimes contra jornalistas. Apesar da existência da data, pouco existe para celebração no Brasil, onde, a cada dia, ficam mais evidentes agressões e hostilidades contra esses profissionais, categoria da qual faço parte. A escalada de violência contra trabalhadores da notícia pode ser verificada por meio de dados da Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), que mostraram que o ano de 2020 bateu recorde de ataques à liberdade de imprensa desde o início da série, na década de 1990.

De acordo com o relatório, foram 428 registros em que jornalistas, de alguma forma, tiveram violados o seu direito constitucional de exercer sua profissão de forma segura, para noticiar fatos de forma independente. Inclusive, nesse total, há dois casos de assassinatos. Os mesmos números computados pela Fenaj mostram que houve uma explosão dessa violência quando se compara com 2019, época em que foram registrados 208 casos. Pela estatística, o crescimento chegou a 105%, algo que deixa nosso país em estado de alerta perante outras nações do mundo, uma vez que a liberdade de imprensa, da qual não podemos abrir mão, é um dos pilares da democracia.

Infelizmente, mas de forma alguma surpreendente, a Fenaj coloca como motivação para o crescimento dessa violência a ação sistemática do chefe do Executivo brasileiro para descredibilizar a imprensa, assim como de seus apoiadores. Esses ataques tiveram início em 2019 e agravaram-se em 2020, quando a cobertura jornalística da pandemia da Covid-19 serviu de pretexto para dezenas de ofensas do presidente e de seus seguidores em uma cruzada negacionista contra a crise sanitária.

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De lá para cá, nada mudou nessa dinâmica, e dois dias antes da celebração da data que pede o fim dos crimes contra jornalistas, em 2021, o homem que ocupa o gabinete da presidência no Palácio do Planalto protagonizou atos de violência contra jornalistas brasileiros em Roma, onde ele estava para participar da cúpula do G20. Os repórteres Leonardo Monteiro, do G1, Jamil Chade, do Uol, Matheus Magenta, da BBC Brasil, e a jornalista Ana Estela Pinto, da Folha de S. Paulo, foram agredidos fisicamente por agentes de segurança brasileiros e italianos enquanto exerciam seu trabalho, fazendo a cobertura da passagem do presidente na capital italiana.

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Como jornalista e, principalmente como cidadão, sei que questionamentos à imprensa e até discordâncias fazem parte do jogo democrático. Todavia, é também como jornalista e mais ainda como cidadão de um país inserido na democracia, mesmo que fragilizada em muitos aspectos, é que digo ser inaceitável qualquer ato que se caracterize como uma institucionalização da violência contra jornalistas.

Já usei essa coluna anteriormente para fazer um alerta contra as forças que trabalham para a extinção do jornalismo e têm o propósito de macular a imagem de jornalistas, colocando em dúvida a apuração séria e responsável dos fatos e até mesmo tentar contra a integridade física de seus profissionais. Volto a fazê-lo, porque desejo que este texto, junto com tantos outros publicados Brasil afora para repudiar os ataques à imprensa, reforce a ideia de que enquanto a informação for uma necessidade vital nas sociedades modernas, e ela será sempre, o jornalismo vai continuar a existir.

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