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O mundo cão é aqui

coluna jmarcos
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Que mundo cão é este que nos é imposto pela sociedade atual? Essa foi a pergunta que não saiu da minha cabeça ao assistir o vídeo que circula no WhatsApp de juiz-foranos, mostrando imagens de uma mulher negra, ensaguentada, caída no chão, inconsciente, com um homem, seu possível agressor, urinando sobre a cabeça dela. A mulher em questão tem 28 anos, mas aparenta ter o triplo dessa idade, além de uma magreza quase cadavérica. Ela foi encontrada, nesta segunda-feira (1º), no Bairro Jardim Natal, na Zona Norte. Levada para o Hospital de Pronto-Socorro, ela foi diagnosticada com traumatismo cranioencefálico, trauma no tórax e múltiplas lesões pelo corpo. O caso dela será investigado pela Delegacia Especializada de Homicídios como uma tentativa de assassinato.

No local onde a mulher foi achada também foi encontrado um homem, jovem e branco, agredido e que teve suas unhas arrancadas. Para a polícia, até este momento da investigação, a brutalidade contra essas duas pessoas está ligada ao tráfico de drogas. Não bastassem as imagens chocantes, o vídeo também apresenta um áudio no qual é possível ouvir risadas enquanto o homem urina sobre a mulher moribunda. Além de violentada, a vítima precisou ser humilhada, gravada e exposta para que mais pessoas, além daquelas que lhe imprimiam atos tão bárbaros, pudessem ver tal covardia. Ela ainda estava com a calça semiabaixada e era chamada de demônio por quem fazia gravação no celular.

A propagação dessas imagens, talvez, seja um recado dos donos do tráfico de drogas para aqueles que ousarem desafiar o seu poder ou, até mesmo, uma tentativa de imposição da lei de silêncio, uma vez que, ao que parece, a comunidade não estaria aguentando mais viver sob o controle de criminosos. Uma moradora que não quis se identificar na reportagem, certamente por medo de represálias, disse que os moradores estão revoltados e que “o Jardim Natal está um inferno”. No vídeo em que aparece o homem agredido, há um áudio de um interlocutor que diz de forma irônica: “Rouba mais”. O que pode, de certa forma, mostrar que as vítimas estariam sendo castigadas pelos traficantes. Em entrevista, o delegado responsável pelo investigação, Rodrigo Rolli, afirmou que a violência cometida contra as vítimas demonstra o total desrespeito ao ser humano e a falta de valor pela vida, assim como uma forma de instaurar o terror naquela região.

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Eu concordo com a fala do policial, mas, além deste tempo de barbárie que estamos vivendo, a violência contra essa mulher me remete a uma marca do Brasil atual, que é caracterizado pelo genocídio de sua população negra, pobre e periférica. Dados do Atlas da Violência de 2017, que aborda o tema, mostram que mulheres, jovens e negros de baixa escolaridade são as principais vítimas de violência no país. A população negra corresponde a maioria (78,9%) dos 10% dos indivíduos com mais chances de serem vítimas de homicídios. O documento também revela que a cada cem pessoas assassinadas, em 2017, 71 delas eram negras e, em sua grande maioria, jovens e mulheres.

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Em Juiz de Fora, já é sabido pelas autoridades de segurança pública que as mortes violentas são patrocinadas pelo tráfico de drogas. No Brasil, a íntima relação entre tráfico e violência está no centro de debates para melhorar a segurança pública. As alternativas para combater o avanço das drogas ilícitas e o aparato ilegal que garante o seu comércio vão da repressão à legalização e são alvo de acaloradas discussões. Todavia, urge que se chegue a um denominador comum, a fim de que políticas públicas em todas áreas sejam efetivadas, interrompendo esse ciclo de mortes e para que não tenhamos mais que, ao abrir o celular, nos deparar com imagens do mundo cão!

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