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Época de encapar cadernos

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Estamos na época de encapar cadernos. Aqui em casa, a incumbência de encapar os cadernos da minha filha fica comigo. Sei que muitos vão pensar que essa tarefa é ultrapassada, porque nas lojas de material escolar já existem capas prontas de cores e formatos variados, e o único trabalho que se tem é escolher a de que mais se gosta. Mas, mesmo assim, aqui em casa, os cadernos são encapados como antigamente: medir o plástico escolhido e usar a tesoura para cortá-lo, milimetricamente. Em seguida, entra em cena o durex. Puxa daqui e dali, e o plástico vai sendo fixado em cada lado da capa. Só quem encapou os próprios cadernos sabe do que estou falando!

Estava eu justamente nessa tarefa quando recebi uma mensagem da Ju Netto, dona da coluna “Tô no jogo”, também publicada todas as quintas, aqui na Tribuna. Ao comentar que estava encapando cadernos, ela disparou: “Que delícia! Bateu saudade da minha infância aqui agora!”. Imediatamente, um portal da memória se abriu, e o assunto que era motivo da nossa conversa ficou para trás. Memórias são imbatíveis e têm esse poder de transcendência. Ju logo lembrou do cheiro da borracha nova. Engraçado, porque, quando me recordo da minha época de material escolar novo, o cheiro da borracha novinha também é o que guardo com mais veemência. Sem nenhum exagero, quase que consigo sentir o aroma.

E não é uma fragrância só da borracha, mas da minha infância, do menino que se encantava com as primeiras letras, da minha primeira professora, do lanche que costumava levar na merendeira preparado pela minha mãe. Às vezes, tinha Mirabel de chocolate – aquele que tinha uma faixa verde do lado esquerdo da embalagem – e virava motivo para a troca de comida. Não me esqueço do Kichute e da meia branca que faziam parte do uniforme, do sino que anunciava a hora do recreio, da algazarra e do jogo de bolinha de gude no campo de areia. Impossível não se lembrar do dedo tingido de roxo depois de pegar na folha de papel stencil. De voltar para casa depois da aula e fazer o dever e me jogar no sofá para assistir ao Sítio do Picapau Amarelo, algumas vezes, com o joelho ralado.

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Lembro-me, de braços dados com minha mãe, de percorrer as lojas de material escolar pelas ruas do Centro de Juiz de Fora com a lista nas mãos. Borracha em forma de carrinho de corrida, apontador de lápis imitando um capacete de motociclista e a caixa de lápis com 24 cores, mas essa ficava só no desejo, porque saía fora do orçamento. O jeito era me contentar com a de 12 cores e misturar algumas na hora de colorir, descobrindo novos tons. E, depois de tanto andar, parar em uma lanchonete e tomar vitamina de banana antes de voltar para casa.

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Saudades desta época em que tudo ainda parecia ser possível, porque todo o futuro ainda existia pela frente. Nostalgia de um tempo em que pensava que tudo era para sempre, e quase nada provocava decepção. O medo, quando aparecia, era por causa do escuro. O tempo é irreversível; depois que começa, não para, e o passado só pode ser alcançado nas lembranças. E são essas recordações que deixam o presente mais afável.

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