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Pequenos nascimentos

coluna jmarcos
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Na semana passada, escrevi aqui neste espaço que “em tempos tão nebulentos, além da morte física, houve muitas mortes simbólicas e ninguém passou imune.” Com essa frase, eu queria dizer que, em razão da pandemia, além da dor da perda de cerca de 615 mil vidas no Brasil, muitas delas de pessoas conhecidas e queridas, durante esse tempo, também deixamos muitas coisas morrer dentro da gente.

Esse período de isolamento compulsório, de alguma forma, nos fez olhar para nosso interior. Fomos obrigados a nos colocar na frente do espelho e descobrir quem éramos e o que restaria de nós quando tudo isso passasse. Muitos sentimentos que estávamos acostumados a nutrir de forma tão automática perderam a razão de ser. O que antes era motivo de angústia e frustração e resultava em sofrimento, diante da chacoalhada que levamos, patrocinada por um vírus desconhecido e mortal, extraviou-se. E que bom que foi assim!!!

Estou escrevendo a respeito disso, porque, depois da publicação da coluna passada, entre os comentários que recebi como retorno, um que foi feito por uma amiga criou raízes em minhas reflexões. Ela me contou que, ao longo dos meses de confinamento, deixou muita coisa morrer dentro dela para que outras pudessem nascer. Imediatamente, concordei, porque considero que o mesmo tenha acontecido com a grande maioria das pessoas. Como disse na semana passada, “ninguém passou imune”, e todos vamos sair renascidos de alguma forma dessa experiência.

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Eu sou do tipo de pessoa que precisa do silêncio, às vezes. Mas não nego que gosto da agitação da vida urbana. Mas a calmaria que o silêncio traz é reconfortante, revigora, preenche vazios, nos prepara para receber novas possibilidades. O isolamento impulsionado pela Covid-19 talvez tenha nos modelado para viver um silêncio mais profundo e dele se inspirar para o que está por vir, para o que vai nascer depois do fim desse período de enclausuramento.

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Claro que não dá para precisar se o que nos aguarda é bom ou ruim. Mas é necessário estarmos renascidos para enfrentar esse futuro que pode estar cada vez mais perto. E caso seja mais nebuloso do que o presente que temos agora, pelos menos, almejo que vamos estar mais amadurecidos, assim como minha amiga, que disse que cresceu e que se sente outra pessoa.

No meu caso, passei a enxergar certas situações de outra forma e vou deixar de perseguir aquilo que agora vejo que já não vale mais a pena. Outra coisa que aprendi é dar mais valor ao que está à minha volta, inclusive naquilo que é mais prático. Se antes, com a correria do dia a dia, eu era um estranho no meu próprio bairro, com as saídas de casa mais reduzidas, passei a frequentar o mercadinho da esquina e a padaria da redondeza. E, claro, dá tempo de o pão chegar quentinho em casa, sem falar que o sabor não é igual ao daqueles fabricados pelas grandes redes. Mas foi preciso que uma rotina morresse para que uma nova passasse a existir. Assim, o que quero dizer é que precisamos estar atentos para identificar os pequenos, mas, quem sabe, fundamentais nascimentos que a vida vem nos oferecendo a cada dia.

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