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Maçã na maionese, banana na farofa

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Quem me conhece um pouco melhor sabe que tenho um conjunto de regras e teorias, régua sob a qual costumo medir, ‘sin perder la piada jamás’, as pessoas e o mundo. Outra coisa fácil de se ver em mim é que, no meu mundo, comida é papo sério. Unindo os dois preceitos, uma das máximas do meu livrinho particular de normas inúteis diz respeito a dois pratos popularíssimos na mesa do brasileiro: farofa e maionese.

A regra é clara: para mim, colocar maçã na maionese e banana na farofa sem aviso prévio aos envolvidos na degustação é crime inafiançável, e indicador de possíveis falhas de caráter. Nada contra os ingredientes em si, o que mata é a (des) ilusão: em meio aos outros ingredientes, a maçã fica facilmente travestida de batata, e quando vamos dar aquela mordida, já esperando o sabor da batatinha macia… “CRRRRRRR”…aquela textura de maçã invade a dentada, frustrando a expectativa do paladar. Mesma coisa com a banana. Entre farinhas e refogados, os pedaços da fruta que tanto causou polêmica nos estádios de futebol e nas redes sociais fica bem parecida com ovos mexidos, e o desinfeliz acaba comendo gato por lebre, sem querer.

O problema, vejam bem, não é misturar fruta com comida. Cada um sabe de sua cozinha, e inclui o que quiser em suas receitas. O que realmente me incomoda é essa ânsia em fugir do tradicional, apostar no diferente apenas pelo diferente e pior: ficar de boca calada, não prevenir. Eu não mexo na sua receita, mas não pise no calo do meu paladar: tenho direito de saber o que estou comendo. Com o passar do tempo, desenvolvi exímias técnicas de observação para distinguir o joio do trigo gastronômico, o que quero e o que não quero no meu prato, e é muito raro que seja surpreendida por uma banana ou maçã sorrateira em um churrasco de domingo.

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Nos últimos dias, acredito que vários eleitores tenham encontrado, entre as propostas de governo em que acreditavam, não só bananas e maçãs em suas farofas e maioneses -antes fosse-, mas um festival de ossinhos perdidos, fios de cabelo e outros itens que teimam em pular na panela e tornar a refeição intragável. Talvez, como eu, passem a examinar melhor o que comem e voltem a garimpar na fila do self-service o que querem em seu prato antes de o pesarem – porque aí não tem mais jeito: pesou, pagou. Talvez apenas deem uma golada de água e empurrem o que já está na boca goela abaixo. Quanto a mim, na política e na gastronomia, sigo com um grande medo de indigestão.

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