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Filmem os professores!

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“Filmem os professores que passam muitos finais de semana preparando aulas. Filmem os professores que deixam de curtir o feriado para estudar e concluir mais uma pós-graduação. Filmem os professores que compram do seu próprio bolso canetas de quadro branco, refil para canetas, apagadores, folhas. Filmem os professores que, depois da aula, dedicam seu tempo precioso para conversar e escutar o desabafo de muitos alunos, orientando-os, muitas vezes, a sair ou não entrar em caminhos errados. Filmem os professores que fazem vaquinhas para alugar ônibus e levar seus alunos a passeios ou excursões pedagógicas. Filmem os que levam seu datashow, computador, caixa de som, adaptador e até cortina de casa para poder passar um vídeo para seus alunos. Filmem os professores que fazem paródias para que seus alunos aprendam o conteúdo de maneira mais fácil. Filmem aqueles que constantemente ficam sem voz. Filmem os que desenvolvem depressão. Filmem os que se deslocam por muitos quilômetros para chegar até a escola. Filmem aqueles que doam seus materiais como lápis, borracha e canetas para os alunos. Filmem também os que estão há cinco anos sem reajuste salarial… Filmem, divulguem e valorizem, pois, além de ensinar, muitas vezes são eles que educam seus filhos”, disse a professora Jéssica Monteiro, de Campos dos Goytacazes (RJ), autora do texto que viralizou nas redes sociais.

Faço coro ao desabafo dela e me solidarizo com os milhares de docentes brasileiros que se veem acuados diante de ações intimidatórias que não só insuflam alunos a denunciarem seus professores, mas legitimam o desrespeito que há muito tem tirado da sala de aula os que assumiram para si o desafio de ensinar crianças, jovens e adultos a pensar.

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Ao invés de reconhecimento aos profissionais da educação, eles têm encontrado na sociedade desprezo, indiferença, abandono. Tornaram-se vítimas de toda a intolerância na qual estamos mergulhados. A ponto de serem agredidos, ameaçados e ironizados por crianças e adolescentes que só enxergam a escola e as universidades como um campo de tensões. “Essa prática de ameaçar o professor, vulnerabilizar o professor, transformar o professor em um adversário, isso tem se tornado quase que viral na sala de aula, na comunidade acadêmica em todos os níveis educacionais. O professor tem sido tratado como se ele fosse um antagonista do aluno e não aquele que contribui para a formação dele”, me confidenciou uma professora da rede pública de Juiz de Fora, recentemente ameaçada de morte pelo Facebook.

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A quem interessa acuar um educador? A quem interessa engessar a discussão de ideias, a pluralidade de pensamentos, a diversidade de opiniões? A quem interessa coibir o livre pensamento nas universidades públicas? Em uma sociedade esfacelada como a nossa, cujo tecido social familiar está completamente esgarçado, a escola, com todas as suas limitações e precariedades, ainda é o porto seguro para milhões de estudantes que não encontram em casa o mínimo de estímulo necessário para se desenvolver. É ela que recebe os filhos que muitas famílias não queriam ter. E são os professores que gastam todo o tempo da aula tentando suprir as lacunas que os órfãos de pais vivos carregam. Em um país que premia os fracos e corruptos, não deveria ser de espantar que aos mestres restasse apenas a desvalorização.

Ao calar quem ensina, estamos amordaçando o presente e sepultando o futuro. Ensinar não é um simples ato de amor. Ensinar é para os grandes, para aqueles que torcem para que o aprendiz supere o mestre. Ao invés de filmar seu professor para denunciá-lo porque ele pensa diferente de você, vá até ele e agradeça por ele ser vela acesa em meio a tantas sombras.

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