Juliana James: “Muito da história real fica dentro de mim e sai em forma de poesia”

Por Marisa Loures

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Professora de teatro e escritora, Juliana James lança dois novos livros infantis no próximo sábado, em evento regado a contação de histórias, música e guloseimas – Foto Divulgação

Imaginem um cachorrinho supercarismático, fofo, chamado Dobby, dando aos humanos uma grande lição sobre o que é ser família! “Tem família em que as crianças têm duas mães ou dois pais”, dispara o pequeno cãozinho, narrador do novíssimo “Entrei para a família”, um dos livros que a escritora, produtora cultural e professora Juliana James lança no próximo sábado, às 10h30, na Biblioteca Municipal Murilo Mendes. Digo um, porque, neste ano, ela envia para as prateleiras duas obras de uma só vez.  Ela também entrega para a criançada o poético “A lua e o riacho”. Já são dez títulos desde o primeiro lançamento em 2013.

“‘Entrei para a família’ fala de adoção. Com um simpático cachorrinho como narrador, aprendemos com ele que família vai muito além do significado da palavra no dicionário. Não é uma receita de bolo, é algo maior, não apenas a descrita no dicionário ou a mais divulgada por todos com a formação básica de pai, mãe, filho (a). No ‘A lua e o riacho’, me inspirei no amor de uma mãe em especial, que teve uma gravidez muito difícil e precisou enfrentar até os próprios médicos para ter seus filhos gêmeos. Por isso, o livro é tão poético. Muito da história real fica dentro de mim e sai em forma de poesia, dando ao leitor a possibilidade de viajar pelo mundo imaginário e fazer a sua interpretação da história. Está um livro leve e com desenhos muito bonitos”, conta Juliana, que, repete a dobradinha com a ilustradora Márcia Evaristo.

Contadora de histórias, Juliana promete muita diversão e gostosuras no dia do lançamento não só para os pequenos, mas também para os leitores mais crescidos. “Será repleto de emoções. Já estou sabendo que a menina Malu (inspiração do meu livro anterior), vai nos prestigiar, juntamente com Anny e sua família, e a Paula Ferraz (inspiração para ‘A lua e o riacho’). Às 10h30, pontualmente, vou fazer as duas contações de histórias, acompanhada do músico Rogério Nascimento e também do cachorrinho Dobby, da Anny, de estrelas, planetas, a Lua e o Riacho, que ganharam vida a partir das mãos da bonequeira Nina Braga. E para completar e a manhã ficar mais gostosa, uma mesa de doces para as crianças.”

Marisa Loures – É uma característica sua se inspirar em pessoas reais para escrever seus livros. Qual é a história que está por trás dessas duas obras que serão lançadas?

Realmente, venho escrevendo sobre assuntos que me cercam, pessoas que me inspiram. Há algum tempo que algumas pessoas me encontram por aí nas contações de história e me falam para escrever algo sobre a adoção. Tenho amigos que adotaram crianças, e um dia conheci uma mãe que me contou uma história especial, a Ângela, mãe da Anny, homenageada nesse livro. Depois que a conheci, tive certeza de que estava na hora de falar sobre o tema e a ideia veio.  Em “A lua e o riacho”, foi uma amiga que inspirou a história, Paula Ferraz. Ela teve uma gravidez de gêmeos e passou por diversas complicações, e foram tantas que não havia médicos que quisessem realizar sua cesariana. A história é tão grande e complicada que não caberia aqui.

– Por que dar voz a um cachorrinho?

Ah, ele é tão bonitinho! Pensei que colocando um cachorrinho como narrador poderia também abrir o debate com as crianças sobre a adoção responsável com os animais. A Anny adotou o Dobby (cachorrinho) no livro e foi por isso que ele conseguiu nos explicar tudo sobre adoção!

– Em um determinado ponto do livro, o cachorrinho nos dá uma grande lição, mostrando os diferentes tipos de família: “Tem famílias em que as crianças têm duas mães ou dois pais”. Levando em conta o avanço do conservadorismo no Brasil e o fato de seus livros serem adotados por escolas, teve receio, em algum momento, de tratar essa questão e a obra ser rejeitada pelos pais?

Não tive receio, pois essa é uma ideia que defendo e repasso para o meu filho, a de respeitar a diversidade familiar, mesmo ciente do crescimento do conservadorismo no Brasil, em algumas escolas por parte de docentes e pelas próprias famílias. Penso que é importante falar sobre o assunto já que, na prática, estamos cercados de pessoas e famílias de todos os tipos. Eu mesma tenho dois amigos que adotaram uma garotinha. Tenho amigas que se casaram e quiseram ter um bebê e tiveram. Conheço inúmeras mães solteiras, filhos que são criados pela avó ou só pelos pais, isso sempre foi uma realidade. Não vejo problema em ser assim, o importante é que exista em todos os lares amor e respeito por eles mesmos e pelo próximo. Não acredito que conservadorismo possa fechar portas para livros como esse, com tantas possibilidades de trabalho em sala e debate, seja abordando adoção animal responsável, falando da diversidade entre famílias e a adoção.

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Com “A lua e o riacho” e “Entrei para a família”, Juliana James alcança a marca de dez livros publicados – Foto Divulgação

– Em “A lua e o riacho”, você trabalha com um texto mais poético, repleto de figuras de linguagem. Podemos dizer que é um livro acessível a todas as crianças? Pergunto isso levando em conta que as crianças trazem diferentes repertórios.

Juliana James – Penso que ele pode ser lido por crianças de todas as idades com ajuda de pais e professores, exatamente por conta de sua poesia e tantas figuras de linguagem e metáforas. Esse livro, inclusive, será adotado no sexto ano de uma escola para alunos com idade de 11 e 12 anos.

– Por falar nisso, acredito que seja um dos seus livros mais poéticos. A dificuldade de escrevê-lo foi maior ou menor?

Eu estava apaixonada pela ideia que estava na minha cabeça e não conseguia enxergar outra forma de por no papel que não essa, cheia de metáforas. Acho que houve um cuidado maior com as escolhas das palavras, a preocupação com o ritmo e o deixar certas coisas em aberto para a ilustração completar a história. E nisso a Márcia Evaristo (ilustradora) arrasou outra vez!

– Qual caminho esses dois livros vão trilhar a partir de agora?

Espero que eles tenham vida longa, que possam chegar às mãos dos leitores, arrancar sorrisos, promover reflexões e que eu possa contar essas histórias muitas vezes por aí.

Lançamento de “Entrei para a família” e “A lua e o riacho”

Sábado (14), às 10h30, na Biblioteca Municipal Murilo Mendes. 

 

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“Entrei para a família”

Autora: Juliana James

Ilustradora: Márcia Evaristo

Edição do autor: 16 páginas

 

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“A lua e o riacho”

Autora: Juliana James

Ilustradora: Márcia Evaristo

Edição do autor: 28 páginas

Marisa Loures

Marisa Loures

Marisa Loures é professora de Português e Literatura, jornalista e atriz. No entrelaço da sala de aula, da redação de jornal e do palco, descobriu o laço de conciliação entre suas carreiras: o amor pela palavra.

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