Benefícios e Fatores Limitantes para Amamentação na primeira hora de vida

Por Jeanne Carvalho

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Hoje, decidi trazer para as minha leitoras dados de um trabalho que foi realizado pela equipe multidisciplinar da Maternidade do Hospital Israelita Albert Einstein – SP sobre os aspectos que interferem diretamente na amamentação na primeira hora de vida do bebê.

Amamentação é um ato fisiológico e biologicamente determinado, mas que sofre influências emocionais, sociais, políticas e culturais. Nas últimas décadas, um dos fatores que contribuiu para o declínio da prática tradicional da amamentação, mesmo que involuntariamente, foi o emprego da tecnologia moderna na assistência ao parto.

Com o progresso científico e as novas descobertas no campo da assepsia, cirurgia, anestesia, antibioticoterapia e hemotransfusão, os riscos hospitalares diminuíram e ampliaram-se as intervenções, resultando num aumento progressivo de cesáreas. Também foram criadas rotinas hospitalares que, por razões supostamente científicas ou visando uma melhor organização dos serviços, promoveram a separação da mãe do recém-nascido logo após o nascimento, tendo impacto negativo sobre a amamentação.

A Organização Mundial de Saúde (OMS) estabeleceu recomendações sobre a tecnologia adequada para a assistência ao parto e algumas delas estão diretamente relacionadas à amamentação por influenciarem diretamente na recuperação materna e o recém-nascido: o índice de cesáreas não deve ser superior a 15%; não se deve praticar a administração de rotina de analgesia e anestesia, pois algumas drogas utilizadas durante o trabalho de parto e o parto podem provocar sonolência na mãe e no recém-nascido; e a indução do parto deve ser indicada com critério médico.

A amamentação deve ser iniciada na primeira hora de vida, ainda na sala de parto, se a mãe e o recém-nascido estiverem em boas condições de saúde, favorecendo o contato pele a pele de ambos. O contato precoce entre mãe e filho está associado à maior duração do aleitamento materno exclusivo. São inúmeras e reconhecidas as vantagens do aleitamento materno precoce: com o contato pele a pele, logo após o nascimento, o intestino do recém-nascido será colonizado por microrganismos da flora cutânea materna se essa for a primeira pessoa a segurá-lo. Além disso, o corpo da mãe o aquece na temperatura adequada, evitando hipotermia que é a queda brusca de temperatura que pode levá-lo problemas metabólicos.

A sucção do colostro vai imunizá-lo, protegendo-o contra infecções. O colostro é laxativo e ajuda na prevenção e redução da icterícia fisiológica.  Previne, também, a hipoglicemia que, muitas vezes, é o motivo de se prescrever outro tipo de leite como complemento alimentar ao recém-nascido.

A sucção do mamilo produz e estimula a hipófise na produção da prolactina e da ocitocina. Além disso faz o útero contrair-se, auxiliando na involução uterina e diminuindo o risco de hemorragia após o parto.

O recém-nascido em que a mãe não recebeu sedativos durante o parto, logo após o nascimento apresenta um estado de alerta tranqüilo, que dura em torno de 40 minutos. Depois de uma hora e meia de vida, geralmente não são encontrados mais estados tão prolongados de alerta.

Em relação ao comportamento materno, alguns estudos revelam que, no momento do parto, há produção de hormônios femininos que provocam um comportamento maternal, facilitando as trocas fisiológicas do estado gravídico para o estado puerperal. A ocitocina é um desses hormônios. Logo após o parto a mãe está ansiosa para tocar o recém-nascido e ambos estão impregnados de substâncias que os deixam biologicamente preparados para uma interdependência. Esse é o momento de fortalecimento máximo do vínculo afetivo e de estímulo à lactação.

É na amamentação da primeira hora de vida que se estabelece o fortalecimento do vínculo afetivo.

Existem alguns fatores limitantes à amamentação na primeira hora de vida como por exemplo:

  • Prematuridade (recém nascidos com idade gestacional abaixo de 37 semanas);
  • Desconforto respiratório (considerados os casos de recém-nascidos com desconforto respiratório e idade gestacional acima de 37 semanas);
  • Efeitos adversos da anestesia, como náuseas e vômitos, hipotensão, sonolência, sedação; e
  • Causas maternas, afecções obstétricas como eclampsia, descolamento prematuro de placenta, atonia uterina
  • Malformação congênita impeditiva do aleitamento, como lábio leporino e fenda palatina, ou malformação cardíaca.

Há também fatores que envolvem ações de melhoria como:

  • Alta rotatividade de partos no setor, com falta de salas e de pré-partos disponíveis para a amamentação;
  • Recusa da paciente que preferiu amamentar no quarto ou optou por não amamentar por motivos pessoais;
  • Recusa médica (anestesista, obstetra, pediatra);

Atualmente, no Brasil, a maioria dos partos são  hospitalares e  caracterizados pela medicalização onde, algumas vezes, a prática médica é justificada por conveniência e não por razões técnicas.

Segundo levantamento encomendado pelo Ministério da Saúde,  a taxa de cesáreas atinge os 56% dos partos realizados no Brasil. Se considerarmos apenas as mulheres que se utilizam de planos de saúde, o percentual é de 80%. A alta taxa de cesáreas está relacionada a indicações por escolha do profissional, por preferência da mulher e como método de esterilização definitiva. Não podemos negar o valor e a contribuição que os avanços na tecnologia trouxeram na redução da morbidade e mortalidade materna e neonatal, mas, por outro lado, o mau uso da cesárea, traz sérios problemas de saúde para mulheres e para os bebês, além de interferir no aleitamento materno.

Esses são alguns dos vários aspectos que interferem diretamente na amamentação na primeira hora de vida. Alguns estão relacionados ao uso da tecnologia moderna, como a cesárea, outros a fatores que envolvem situações sobre as quais não se pode atuar, e outros que podem ser melhorados.

Preservar a amamentação na  primeira hora de vida é garantir saúde para o bebê pelo resto da vida.

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Foto: Eliana Allon

Jeanne Carvalho

Jeanne Carvalho

Fisioterapeuta, acupunturista. Saúde da mulher e assistência humanizada ao nascimento. Cuidados do pré-natal ao pós-parto. Siga meu instagram.

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