No fundo da garrafa de muitos vinhos há uma concavidade, também comumente referida como “punt”, repuxo, reentrância ou mesmo “buraco”, detalhe notado facilmente pelos amantes da bebida. Mas qual o motivo de sua existência?
Não serei capaz de dar a resposta definitiva ao estimado leitor, pois a verdade é que ela não é conhecida. O assunto é envolto em bastante controvérsia até os dias atuais.
Mas vou explicar o que é encarado como mito ou exagero para a origem dessa “estética” e as teorias mais aceitas para a presença da cavidade.
O ‘buraco’ na garrafa de vinho indica qualidade?
A ideia de que a qualidade do vinho está diretamente relacionada ao nível de concavidade do fundo da garrafa é mito. Ela se disseminou por uma aparente lógica. Como os vinhos mais celebrados costumam produzir uma borra com o passar do tempo, a reentrância serviria para que os sedimentos ficassem acumulados nessa parte. Essa é uma tese descartada como outras várias.
Ainda há outra explicação que costuma circular relacionando repuxo e qualidade. Com a concavidade, a garrafa fica mais distinta e alta, dando um aspecto, digamos, mais atraente, ainda que a quantidade seja a mesma, de 750ml. Ou seja, seria uma jogada de marketing. Não dá para descartar que a permanência desse aspecto não tenha relação também com isso, mas o fato é que não nasceu com essa finalidade.
Facilidades e segurança?
Embora a existência da concavidade auxilie no manuseio na hora de servir o vinho, reduzindo a área de contato da mão com a garrafa (algo que ajuda a preservar a temperatura), esse fator não prospera nos meios especializados sobre o porquê de haver esse “buraco” na base.
Também há quem mencione a necessidade do repuxo para que as garrafas de espumante não estourem no momento em que a rolha é colocada, pois ele reduz a pressão interna. Mas então qual o motivo de haver essa forma em vinhos tintos também? Seria uma estratégia de marketing a partir de uma necessidade? Como dissemos no início, essa ideia não parece proceder.
O ‘punt’ dos artesãos
As teses mais aceitas estão relacionadas ao início do processo de fabricação, quando as garrafas eram produzidas artesanalmente. Nos primórdios, o artesão precisava soprar uma gota de vidro incandescente em um cano e o girava para que ele tomasse a forma da garrafa. Ao fim, com o vidro ainda mole, apoiava a base em uma ferramenta convexa denominada “punt”.
A razão para o uso do “punt”, no entanto, é objeto de dúvidas. Pode ter sido com o intento de dar maior resistência à garrafa. Com o repuxo, diminuía-se o impacto do desbalanço no corpo da garrafa, evitando que ela pudesse quebrar facilmente.
Existe também a hipótese de o artesão ter buscado estabilidade na hora de deixar a garrafa em pé. Isso porque não era possível deixar a base plana totalmente. Então, o repuxo daria conta de dar uma maior firmeza na sustentação.
Por outro lado, ainda que resistência e estabilidade sejam motivos convincentes, é possível que o uso de uma ferramenta convexa no remate do processo artesanal não tenha sido por finalidade maior. Seria apenas o instrumento conhecido à época para encerrar a “artesania”.
Enfim, o fato é que não há uma explicação definitiva para o “buraco” na base da garrafa, apenas pistas que remontam à origem artesanal da produção de garrafas.