De uns dois anos para cá, minha função no jornal não tem me permitido sair da redação para apurações de matérias, algo que dez em dez jornalistas dizem ser o mais apaixonante da profissão. Conseguir uma brecha para ir ao Campus da UFJF produzir um material para o esporte, por si só, já seria um motivo de satisfação. Mas acabou sendo mais. Há duas semanas, pude conhecer a história de Adriene Orsay, corretora de seguros que, após vencer um câncer de mama, começou a correr, passou a levar os treinos a sério e hoje figura entre as dez melhores atletas do ranking de provas de rua de Juiz de Fora.
Confesso aqui que Leonardo Costa, meu parceiro de pauta, na produção das fotos e do vídeo, ficou impressionado com a bonita história de superação de Adriene. Não diferente a ele, a matéria, publicada aqui na Tribuna domingo, mexeu comigo. Principalmente por eu ser mulher, também correr e estar propensa, tal como ela, ao câncer de mama, que atinge anualmente 300 juiz-foranas.
“Você nunca mais vai chorar porque alguém roubou o seu celular, porque terminou um relacionamento. Isso tudo é muito pequeno.” De todas as falas, essa levou-me a algumas reflexões. Desde agosto, após duas meias-maratonas bem-sucedidas e de um pódio geral em uma prova oficial, pela primeira vez em três anos nessa aventura com os tênis de corrida, tive um baque ao ser obrigada a diminuir o volume dos treinos, que tanto gosto, em função de uma canelite, provocada por músculos enfraquecidos. Estúpida, achei que aquela lesão, inédita para mim, seria o pior problema do mundo. Neguei, chorei, me estressei, me desesperei. Dois meses depois, conhecer a história de Adriene me fez ficar envergonhada. O que é uma inflamação na canela frente à luta contra células cancerígenas em seu corpo? De duas semanas para cá, o gradual retorno aos treinos passou a ter novos significados para mim.
Como outros milhões de rubro-negros e rubro-negras, também aguardo ansiosamente pela final da Libertadores, em novembro. Se o Flamengo vencer? Comemorarei horrores o feito só visto em 1981, ano em que eu ainda sequer era nascida. Se perder? Ficarei triste. Alguns colegas mais eufóricos poderão até achar o fim do mundo. Mas, pela reflexão de Adriene, algo ainda muito pequeno.
Certamente, como em várias outras vezes em que fui à rua conhecer histórias para depois transportá-las para essas páginas, aquele 15 de outubro, dia do professor, foi uma grande aula para mim. Com minha personagem, termo que usamos costumeiramente no jornalismo, aprendi que certas coisas são mesmo muito pequenas. E que a superação, tal como escrevi na semana passada, é realmente uma das coisas mais lindas do esporte.