Se houvesse uma votação para definir o pior Brasileirão dos últimos anos, creio que, como nos mais recentes paredões de BBB, a maioria absoluta dos público elegeria o desta temporada 2020. Um torneio que iniciou tarde, adiado em função dos cerca de três meses sem jogos no país, que nos entreteu, mas que pouco acrescentará à história da competição.
Já com os quatro times rebaixados definidos no domingo passado – situação que só muda com um verdadeiro milagre protagonizado pelo Vasco – e com as equipes de Libertadores também sacramentadas, a briga na derradeira 38ª rodada desta quinta definirá os classificados para a Sul-Americana e o campeão. Claro que o time detentor da taça é sempre o assunto mais importante. Mas, neste cenário pandêmico que tirou um pouco da emoção do futebol, até a disputa pelo título tem sido diferente – ver um capitão levantando o troféu em um estádio vazi e a torcida impedida de se aglomerar nas comemorações é um novo normal muito dolorido para mim, confesso.
Talvez salvo por uma brilhantíssima atuação no Morumbi, palco cuja última vitória rubro-negra foi há dez anos, o Flamengo pode erguer o troféu pela segunda vez consecutiva. Mas, pelo elenco, e por tudo que se projetava para a temporada seguinte ao ano mágico de 2019, superar o Inter por uma diferença tão pequena de pontos ficará aquém das expectativas. Até porque em certos momentos, como na derrota contra o Fluminense, no segundo turno, até mesmo Arraescaeta, em entrevista pós-jogo, confessou que o elenco não fazia por merecer o título. Como pouco fez em todo o campeonato, exceto raríssimas partidas.
O Inter, que parecia ter errado no retorno de Abel Braga, acumulando três derrotas consecutivas em pleno Beira-Rio entre novembro e dezembro, se acertou e, com concorrentes como São Paulo, Atlético-MG, Palmeiras e Grêmio patinando na tabela, aproveitou. Por ironia do destino, Abelão, muito criticado em sua passagem pelo Fla, pode fazer história justamente contra o Rubro-Negro. Em Porto Alegre, recebeu a confiança que não teve na Gávea. Pela história que carrega, e pela fatalidade vivida com o filho, na qual parece ter-lhe impactado também na vida profissional, o título colorado será justo, principalmente por este contexto de superação do treinador.
Torcedores de Flu, Ceará e Bragantino, por exemplo, pelas boas campanhas, até se lembrarão com mais nostalgia do campeonato. Torneio que, em 2021, não terá a presença de Vasco, Botafogo e Cruzeiro. Eliminações de participantes importantes, que erraram – principalmente na gestão -, mas que mereciam seguir no jogo.
Talvez este Brasileirão tenha sido um reality show da bola: entreteu, gerou buzz, mostrou o lado bom e o ruim dos concorrentes, teve dias animados, outros de muita preguiça. Analogias à parte – também contou com auxílio de câmeras, no caso, do polêmico VAR. Por pior que tenha sido, a gente assistiu, comentou e grudou os olhos na TV, mesmo diante da qualidade duvidosa da atração. E, com o tempo, pouco nos lembraremos dele.