Virava e mexia, antes mesmo de Tóquio, eu me deparava com dois jovens vizinhos manobrando seus inseparáveis skates pelas ruas do entorno.
Coincidência ou não, após o sucesso de Rayssa Leal, Kelvin Hoefler, Pedro Barros e da modalidade como um todo, que estreou na lista de competições olímpicas, depois de um tempo sumidos, encontrei-os novamente na semana passada. Claro que ostentavam o equipamento de quatro rodinhas. Curioso que, para outras crianças e adolescentes do prédio, a quadra de futebol é a que mais chama atenção. Para essa dupla em questão, não. A calçada mais alta e irregular perto do supermercado é a diversão dos garotos, que fazem do local uma pista particular.
Pode ser, então, que os Jogos deste ano mudem o rumo destes meninos. Talvez, de diferentões entre os jovens da vizinhança, eles passem a receber olhares menos desconfiados – ou até mesmo marginalizados. Quem sabe até recebam a companhia de outros adolescentes do bairro na diversão diária e quase sagrada. Ou até mesmo de uma garota, inspirada pela histórica Fadinha.
De todas as medalhas conquistadas no Japão, as do skate talvez sejam as que mais influenciarão o público amador. Afinal, se a falta de pistas é um empecilho, de calçadas desniveladas e obstáculos nossas ruas são fartas. Antes duvidosa em relação à inserção da modalidade no quadro olímpico, hoje percebo no quão interessante foi essa novidade.
A esses vizinhos, o desejo é de que sigam se aventurando nas manobras. Bom seria se encontrassem um professor que pudesse ensinar-lhes técnicas novas. E um espaço adequado, obviamente. Mas quem sabe um dia eu não me gabe por morar próximo ao fulano de tal, medalhista nos Jogos 2028, 2032 ou seja lá qual competição for.
No entanto, só de vê-los à vontade, se divertindo e, agora, com olhares menos reprovadores, já é uma evolução.