De todos os jogadores que estavam em um time rebaixado à Série B do Brasileiro nestes últimos anos, Thiago Neves talvez seja o que mais esteja carregando esse fardo em suas costas. Não sei se estou sendo traída pela minha memória ou se realmente o descenso celeste ficará fortemente associado ao nome do meia como até então ainda não tínhamos visto. Corinthians, Inter, Vasco, Atlético, Palmeiras, Botafogo? Não lembro especificamente de nenhum nome, de forma tão forte, como nessa dobradinha TN10/Cruzeiro.
É certo de que um elenco não é composto por um único atleta. É certo que a diretoria do Cruzeiro acumulou uma série de erros que culminaram na queda do time em 2019. Mas por que TN10 paga de vilão e Fábio, por exemplo, se mantém como ídolo – que inclusive seguiu na equipe que agora luta para voltar à elite novamente?
Diferentemente do goleiro celeste, admirado por muitos torcedores – não só cruzeirenses -, Thiago Neves acumula polêmicas em sua carreira. Tem talento, mas poucas vezes se comportou como ídolo. Já disse, ao ser contratado pelo Flamengo, que, mesmo depois de chegar a uma final de Libertadores com o Fluminense, agora sim, estaria jogando em um time grande para, na temporada seguinte, voltar ao Tricolor carioca desdenhando o Rubro-Negro. No Cruzeiro, as discussões com Rogério Ceni e o áudio dirigido a Zezé Perella ficaram marcados.
Se Thiago Neves já não era referência em um tempo onde o mundo virtual não era tão forte, agora, na época em que o “Fala, Zezé” tem a possibilidade de se tornar meme e circular feito pólvora, a carreira do jogador deixa de ser discutida somente em função do que ele rende – ou não – durante as partidas.
É certo que as redes sociais, na maioria das vezes muito mal utilizadas pelos atletas, comprometem suas imagens. Ao invés do foco em suas performances, há aqueles que destinam tempo demais ao on-line (e aqui pode-se abrir um parênteses para profissionais de várias modalidades). A relação de aproximação virtual, de zoações aos adversários, de festas, se não bem controladas, podem trazer efeitos colaterais.
Curiosamente, Thiago Neves, que tanto feriu atleticanos pela internet, foi ferido pela massa atleticana, que repudiou veementemente sua contratação justamente pela web, a ponto de um contrato assinado ser reconsiderado. Nem Fred, torcedor (a), naquela outra polêmica troca de Atlético para Cruzeiro, foi tão rejeitado.
“Queimado” como está, creio que dificilmente TN10 achará um clube para jogar no Brasil com aval de seu torcedor. Decerto, a tríade conduta pouco profissional, mal uso de redes sociais e um rebaixamento no currículo pesaram para Thiago Neves. Como poucas vezes se viu.